Pitchfork Festival Paris 2013 – Dia 1: The Knife, Darkside, Savages e mais

Veja quais foram nossas impressões deste primeiro dia da edição francesa do festival que é referência da música independente

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Fotos: Sarah Bastin
Nota: 4.0

Blood Orange

Se estar presente nesta edição europeia do Pitchfork Festival teve uma grande importância para um entendimento um pouco mais completo do últimos anos na música, foi para assistir pela segunda ou terceira alguns nomes e ter certeza se o sentimento em relação à suas apresentações foi o mesmo.

Blood Orange foi um dos nomes que gostamos de ver em Chicago, mas que não chegaram a impressionar, o que realmente não parece ser o grande objetivo de Dev Hynes, que está mais próximo de um daqueles verdadeiros amantes da arte, que daqui alguns anos lembraremos seu nome como alguém que estava presente em alguns momentos marcantes da música, mas sem roubar a cena.

Hynes parecia bem mais à vontade, muito por causa do ambiente fechado do festival e de seu período noturno que contribuiram para o clima sedutor e intimista trazido pelo projeto. Guitarras marcantes, um vocal hipnotizante são algumas das características bem trabalhadas na apresentação cheia de Groove, perfeita mesmo para iniciar uma boa noite de shows que estava para chegar.

3,5 bananas

No Age

Fever Dreaming é um dos singles mais marcantes dos últimos anos dentre as bandas influenciadas pelo Punk e obviamente o que me fez prestar muita atenção nos rapazes do No Age.

O triste fato, é que a cada novo contato que tenho com a obra deles, seja em seu mais recente álbum An Object ou nesse show, a banda parece mais vazia e esquecível, no sentido mais triste da palavra.

A apresentação barulhenta em que mal dava para diferenciar uma música da outra por estarem todas muito diferentes das versões de estúdio e escondidas por trás de uma suposta atitude Punk não parecia comunicar muita coisa além de exatamente o que víamos, dois garotos querendo causar muito e fazer muito barulho. Entendo que isso faz parte da proposta escolhida, mas eu, particularmente não consegui ver nesse caso específico, um bom aproveitamento do talento claro e boas referências que ambos possuem. Após ver o que Ty Segall, Cloud Nothings, Japandroids e Thurston Moore conseguem fazer ao tentar fazer um bom barulho, a música do No Age soa ainda mais silenciosa.

2 bananas

Mac DeMarco

Parece que na terceira tentativa de assistir a um bom show de Mac DeMarco, tudo finalmente se encaixou.

Apesar das brincadeiras excessivas, das faixas extremamente curtas e da falta da boa produção do álbum nas execuções ao vivo, o sentimento geral final foi de satisfação e não de frustração como das últimas vezes. Obviamente que a baixa expectativa teve seu papel, mas dois principais pontos foram importantes para que Mac DeMarco soasse um pouco mais próximo daquele incrivelmente criativo que nos acostumamos a ouvir nas versões de estúdio.

A primeira foi o ambiente fechado e a acústica do local. Sei que tal análise é estranha, pois o som um pouco “caipiresco” de DeMarco parece combinar bem com um dia de sol, mas suas apresentações ao vivo são tão cruas e despretensiosas, que uma boa acústica parece realmente ter feito a diferença.

A segunda coisa foi a quantidade de músicas, um pouco maior desta vez, fazendo seu som se sobrepor às brincadeiras (ainda frequentes), cabendo todas as preferidas como Cooking Up Something Good, Stars Keep On Calling My Name, Rock’n’Roll Night Club, Annie, Ode To Viceroy e Freaking Out The Neighboorhood todas em sequência.

Mac DeMarco é um nome dessa geração da música independente que propositalmente tenta parecer se importar menos com eventos importantes do que realmente se importam e isso faz prte do show, desde que o resultado disso não seja uma apresentação boba e uma decepção generalizada em um público que esperava o nível de comprometimento com a boa música visto em seus álbuns.

4 bananas

Savages

Mais um show que pudemos assistir novamente para termos certeza de todo o potencial que já vimos anteriormente. Não tem jeito, gostos e avaliações qualitativas à parte, Savages é uma das novas bandas com mais atitude e que parece mais certa do caminho que quer seguir.

O show não tem grandes pirações, prolongamentos de músicas ou qualquer outra grande pirotecnia. O que você ouve no disco, você ouve ao vivo e devido à alta qualidade do material gravado, o resultado disso não podia ser melhor.

Elas são tecnicamente impecáveis, som muito nítido, qualidade nem sempre presente em shows de bandas de Post-Punk, e uma projeção impressionante da voz de Jehnny Beth, colabora ainda mais do que no disco para aquela atmosfera sombria e sufocante do Post-Punk que fazem como ninguém. As meninas nos deixam com uma curiosidade enorme a respeito do que virá nos próximos trabalhos, mas é uma daquelas bandas que se fizessem exatamente a mesma coisa para o resto de suas carreiras, nos deixaria satisfeitos.

4,5 bananas

Mount Kimbie

Shows de duos de música eletrônica tem se tornado um de meus programas favoritos. Devido ao caráter diferente de como é feita sua música, com muitos samples, sem a necessidade de instrumentos tradicionais e uma banda de apoio, cada apresentação, dependendo da vontade da dupla pode caminhar para um lado, portanto é sempre surpreendente.

No caso do duo Mount Kimbie, a intenção era transformar o ambiente em uma grande pista dos sonhos, pois conseguiram arranjar todas as músicas de maneira a ficarem muito mais dançantes e upbeat, inclusive faixas como You Took Your Time, de seu mais recente disco, com participação de King Krule que se tocada em sua versão de estúdio em uma festa seria para botar todos para dormir. Da iluminação às improvisações, o objetivo da dupla parecia ser realmente nos fazer curtir o momento e conseguiram.

4,5 bananas

Darkside

A noite foi passando e a sensação de que o projeto de Nicolas Jaar e Dave Harrington era a grande atração do primeiro dia de festival só aumentava. É muito legal poder ver como headliner um projeto tão jovem, o que só aumenta nossas expectativas.

A primeira escolha a dar o tom da apresentação foi a quase ausência de iluminação. Os shows do Grande Halle De La Villete, locação do evento, são conhecidos por conseguirem encantar também visualmente, com um poderoso e moderno sistema de luzes, mas trabalhá-las bem, nem sempre significa usá-las. Pelo que foi possível interpretar da escolha, tal atitude foi um recado da banda de que estávamos lá pela música e não para olhá-los parados mexendo numa mesa de som e tocando uma guitarra de vez em quando. Além disso, é uma ilustração do próprio show, que conta com pouquíssimos elementos, passa a impressão de economizar mais nos enfeites do que no disco, principalmente pelos prolongamentos de faixas.

O que mais se destaca no show da dupla é o flow. As músicas são tocadas de forma a curtirmos a construção da melodia e não apenas servirem para criar uma expectativa na direção de uma explosão ou de um refrão. Isso não quer dizer que esses ápices não estejam lá e sim que aparecem de maneira muito mais repentina e surpreendente, empolgando ainda mais.

Minha sensação ao final do show foi de me sentir privilegiado de ter presenciado algo tão diferente do que estamos acostumados. A maturidade das escolhas sonoras do projeto impressionam e ao se unirem ao senso estético da dupla, chegam a emocionar e arrancar alguns bons arrepios durante esse show, que preciso ver mais uma vez.

5 bananas

The Haxan Cloak

Quem já ouviu Excavation, álbum lançado nesse ano pelo The Haxan Cloak já imagina como foi a apresentação.

A proposta do disco é simular e estimular nossa imaginação a respeito da vida após a morte. Infelizmente, achei que passar por este desconforto extremo durante o festival não foi das melhores experiências.

Impossível questionar a qualidade do projeto e do excelente e talvez até um pouco à frente do nosso tempo, Excavation, mas de fato, aquilo não combinou com o restante da noite que estav agradabilíssima.

2,5 bananas

The Knife

Já um pouco mais vazio do que eu imaginava, entrou The Knife para, sem brincadeiras, nos tirar de nossa zona de conforto, como prega Shaking The Habitual.

A dupla subiu ao palco acompanhada de cerca de dez pessoas que juntas, fizeram uma verdadeira bagunça organizada no palco. A cada faixa, alguns se revezavam na dança, no vocal, em instrumentos exóticos e no que mais fosse preciso. Era difícil entender, em muitos momentos, quem estava tocando ou cantando e em diversas vezes creio que era tudo uma gravação, mas que dentro da proposta da apresentação, soou como uma estratégia válida, já que o propósito de tudo era a festa e o efeito que aquilo teria nos presentes e não se alguém decorou as cifras da maneira correta.

Karin Anderson é quem realmente comanda a dupla e quem ficou encarregada de animar todos durante a apresentação, puxando danças e gestos coletivos, estimulando a piração de quem já estava pirado com os bons vinhos e cervejas servidos no evento.

Algo curioso porém, foi a ausência de qualquer mensagem política durante o show, algo extremamente presente no disco, basicamente toda a sua proposta. Acredito que o significado da expressão Shaking The Habitual tem vários significados e a dupla pretende abusar de tais possibilidades, sem se prender a uma única mensagem.

O resultado de tudo isso foi uma experiência completa, diferente do que estamos acostumados, extremamente animada, colorida, hipnotizante e que merece ser vista por muito mais gente ao redor do mundo, para que possam também chacoalhar suas rotinas.

4,5 bananas

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.