Popload Festival (28 de novembro) – Audio Club, SP

Primeira noite do evento foi marcada por ótimas apresentações de Tame Impala, Boogarins e Pond

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Fotos: Fotos por Fabrício Vianna
Nota: 4.0

Dividido-se entre a psicodelia e apresentações mais intimistas, o primeiro dia Popload Festival foi marcado por bons show e alguns percalços no meio do caminho. Foi marcado também por uma boa organização e algumas novidades em sua estrutura, dessa vez maior e com boa diversidade de comidas e bebidas, sem contar uma boa área para os presentes circularem entre um show e outro.

O início de noite começou ainda bem vazio, muito disso pelo horário de sua abertura. Ainda assim, o público já parecia bem animado para ver o quinteto australiano Pond, que desembarcava em nosso país pela primeira vez. Dividindo alguns membros com a atração principal da noite, o grupo parecia despertar na plateia certa sensação de “aquecimento” para o show de Tame Impala, mas, ao contrário disso, o quinteto trouxe ao palco do Audio Club uma sonoridade bem mais encorpada e roqueira que seu primo mais famoso, algo bem próximo ao Heavy Metal do seminal trio inglês Black Sabbath, acrescido com boas pitadas da psicodelia de cena de Peth. Com guitarras potentes e distorcidas, riffs cáusticos e uma aura pouco sombria, o grupo apresentou uma apresentação baseada em seu último lançamento, o pesado Hobo Rocket, lançado no começo deste ano.

Apesar dos problemas técnicos (principalmente na equalização dos instrumentos e no vocal de Nick Albrook, baixo demais durante toda a apresentação), o curto show pode prosseguir sem grandes problemas. Conforme a apresentação foi seguindo (por faixas como Whatever Happened To The Million Head Collide?, Giant Tortoise, Elvis’ Flaming Star e Fantastic Explosion of Time) o público ia se amontoando em frente ao grupo e começando a lotar o Palco Principal. Causando espanto em alguns e balançando muitas cabeças com seu Rock vigoroso, o grupo fez um dos melhores espetáculos da noite mais psicodélica do festival.

Em seguida, foi a vez do quarteto brasileiro Boogarins surpreender muita gente (incluindo a mim) com um show que pouco tem a ver com seu disco, As Plantas que Curam (2013). Sim, grande parte das músicas tocadas vieram desse álbum, mas os arranjos estão bem mais livres e viajados do que o que os vistos nessa obra. A banda parece desmontar suas faixas até o esqueleto e remonta-las de forma a deixa-las ainda mais potentes, se aproveitando para alongar pontes, criando jams instrumentais de extrema psicodelia e parecendo brincar a vontade com esses registros de estúdio, improvisando tudo ao vivo.

Em pouco mais de 40 minutos, o quarteto conseguiu mostrar algumas faixas novas (Eles Não Deixam Ver O Sol e Tempo) e apresentar alguns de seus maiores sucesso, como Lucifernandis, Infinu e Doce. Com grande simpatia em cima do palco, até mesmo alguns problemas técnicos com o microfone do vocalista Dinho viraram motivos para piada. Esse foi um show incrível e muito mais potente do que a estreia da banda em São Paulo, em outubro de 2013. Esse tempo e as turnês fora do país fizeram a banda amadurecer muito e merecer ser um dos grandes destaques dos festivais nacionais.

Fechando a parte psicodélica do festival, Tame Impala fez um show nada menos que impecável. Kevin Parker e sua turma subiram ao palco por último, encerrando o evento e lotando o Palco Principal, que começara a encher desde a apresentação de Cat Power. Assim como aconteceu com Boogarins, apesar de usar como base a música de seus dois registros, via-se uma grande modificação nas estruturas e arranjos das músicas, que ganhavam ainda poder lisérgico em suas novas roupagens. Jams, improvisos e alongamentos das melodias criavam um ambiente propício imersão na viagem psicodélica que o grupo oferecia ao público.

O show mesclou bem faixas dos dois discos, Innespeaker e Lonerism, e ainda conseguiu mostrar alguns trechos de músicas novas (como a piração instrumental Oscilly ou a progressiva e dançante Auto-Prog III), que possivelmente integrarão seu novo álbum. Se o tecladista Jay Watson disse que o próximo disco será “mais eletrônico”, parte dessa vibe mais dançante foi mostrada nesse show. Elephant e Half Full Glass of Wine, por exemplo, granharam novos trechos em que podia-se se sentir em uma pista de dança.

Os momentos mais comemorados pelos fãs ficaram por conta dos hits Solitude Is Bliss (tocada logo no começo do set), It Is Not Meant to Be, Elephant, Apocalypse Dreams e Feels Like We Only Go Backwards. Um encerramento nada menos que incrível para o primeiro dia do festival.

A parte intimista ficou a cargo de nomes fortes, mas que certamente destoavam do restando do line up desse dia. Rodrigo Amarante tocou logo após Boogarins e fez um show exemplar, mostrando as faixas de seu disco, Cavalo. O problema era que grande parte do público parecia estar animado demais para entrar no clima pesado e, às vezes, depressivo do cantor. A condução do set list também não ajudou tanto. O músico deixou seus maiores hits (as faixas mais animadas) para o fim da apresentação, hora em que já tinha perdido o interesse de grande parte dos presentes. Foi só mesmo com Hourglass e Maná que o público se animou novamente, mas esse foi também o fim de sua apresentação.

Os pontos mais altos do show ficaram por conta de Cavalo, linda faixa guiada só ao piano, e Evaporar, de seu projeto LIttle Joy. Um belo cover de Errare Humanum Est também conquistou (e surprendeu) a plateia. “Errare Humanum Est significa ‘Errar é Humano’, mas não só quando você faz alguma merda, […] este ‘errar’ vem de ‘errante’, do querer descobrir o desconhecido”, disse o músico antes de cantar a bela faixa de Jorge Ben Jor, presente no álbum A Tábua de Esmeralda, lançado em 1974. Um belo show, mas que pode não ter sido a melhor escolha para preencher o meio do festival.

Cat Power, longe de estar em seus melhores dias, tocou logo em seguida ou pelo menos tentou. Em meio e insistentes brigas com os técnicos para arrumarem o som e o desrespeito do público (claramente desinteressado), Chan Marshall saiu do palco pouco antes do fim de sua apresentação, depois de uma briga com alguém da plateia que mandou um “Fuck You” para ela, respondido da mesma forma pela moça. Ainda assim, Power seguiu a tradição de seus shows distribuindo flores e entregando o set list aos fãs.

Certamente um show somente guaiado pela moça ao piano ou a guitarra não foi a escolha mais sábia para um festival deste porte, ainda mais por colocarem Power para tocar antes do headliner da noite. A apresentação intimista, que por mais que tenha revisitado grande parte dos sucessos de Chan (músicas como Bully, Metal Heart, The Greatest, Good Woman e Maybe Not), não conseguiu prender a atenção do público, que mais conversava que prestava atenção no show. Em meio a desabafos (falando algumas vezes que estava grávida e que precisava de um tempo para se cuidar), Cat Power fez um show irregular e pontuado por erros, tanto técnicos, quanto da própria cantora.

No geral, o primeiro dia do festival teve um saldo muito positivo, uma boa organização e bons shows. O som deixou a desejar em boa parte do tempo, mas não chegou a estragar nenhuma performance, mesmo tendo prejudicado bastante a banda de abertura.

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts