Festival Shut Up It´s Bass – Audio Club

Evento reuniu nomes como Flying Lotus, Tropikillaz e Party Favor em uma noite muito dançante

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Nota: 4.0

O que esperar de um festival nomeado Shut Up It´s Bass? Muita música baseada em graves e baixos fortes, é claro. A chamada Bass Music invadiu São Paulo nesse última quinta-feira e posso dizer que, apesar do frio e ameaça de chuva que assolavam a cidade, quem compareceu ao evento não se arrependeu. Em pouco mais de seis horas de festival, dez artistas de destaque nessa tal cena se apresentaram, revezando o comando dos palcos e todos, à sua maneira, conseguindo empolgar o público.

A organizção dividiu os shows em dois palcos, sendo o CLUB o menor deles e que recebeu os shows pouco mais intimistas, como Jessy Lanza (que tive a chance de acompanhar um pouco da apresentação) e Kelela (que infelizmente não consegui ver uma música sequer). Já o STAGE receberia os nomes de maiores destaque, como Flying Lotus, Tropikillaz e Party Favor, e foi por lá que fiquei a maior parte da noite.

Logo que cheguei, somente o palco CLUB estava aberto e Thiago Salvioni, mais conhecido pelo projeto Soul One, assumia as pickups. Dono de um som experimental e cheio de quebras, a apresentação do produtor demorou a engatar e era visível no começo que o público não estava tão imerso na música que estava sendo tocada. Com faixas praticamente baseadas somente em beats (poucas delas tinham vocal ou algum outro floreio), o set começou mesmo a esquentar quando o músico abriu mão da vibe Ambient para pegar mais pesado nos beats, se aproximando de estilos como Rap, House, Techno e Soul.

No palco STAGE (marcado por um efeito dominó de atrasos), CERSV assumia o comando da festa com muito groove proveniente de uma ótima mistura entre Soul (envolvendo vários recortes de sons brasileiros) e beats vindos do Hip-Hop. Cesar Pierri (nome por trás do selo Beatwise Records) soube empolgar o público que crescia e se amontoava desde já para ver a próxima atração daquele palco, saindo ovacionado pelos presentes. Com pouco mais de uma hora de set, o produtor arrancou muito mais que passos tímidos de dança, principalmente quando era o mote do festival (a Bass Music) que assumia o papel principal nas faixas.

Já se passava da uma da manhã quando Cesar acabou sua apresentação. As luzes se apagaram e muita fumaça começou a enevoar o palco, criando grande expectativa para o show mais aguardado da noite, o de Flying Lotus. Por diversas vezes, o telão piscava e todos se animavam e aplaudiam, mas esses eram só alarmes falsos. Por vezes também, o músico assumia sua posição nas pickups, mas pouco se conseguia por conta da excessiva fumaça que tomava conta de tudo.

Ao som dos primeiros beats, logo veio no telão imagens retiradas de You’re Dead!, novo álbum do músico (e que está disponível hoje para streaming gratuito). Corpos multilados, pessoas mortas e muita violência (tudo isso em belas ilustrações do artista Shintaro Kago), anunciavam o clima “agressivo” do show que viria a seguir. Baseando sua apresentação na tal Bass Music que nomeava o festival, Steven Ellison escolheu de seu extenso repertório, faixas que se destacassem nesse quesito e os desdobramentos do Rap de sua música predominaram grande parte do set. Até mesmo Captain Murphy (persona assumida por FlyLo quando assume o microfone e faz seus versos) deu as caras.

Os destaques da ótima apresentação de Lotus vão para dois quesitos. O primeiro: a música. Sempre impecável nesse ponto, Steven caprichou em seu set, tocando faixas como Picked!, de Cosmogramma, e Putty Boy Strut, de Until The Quiet Comes, além da recém-lançada Never Catch Me, de seu futuro álbum. O segundo quesito foi a parte visual. Usando dois telões, um translúcido em frente a suas pick ups e outro atrás, o músico conseguiu hipnotizar os presentes com belas imagens e o efeito íncrivel criado com essa técnica de projeção que conseguia adicionar senso de profundidade – um 3D sem óculos escuros. Particularmente, eu nunca tinha visto nada do tipo e posso dizer que foi uma experiência imersiva ímpar, principalmente quando uma estilização ainda mais psicodélica do clipe de Zodiac Shit foi para os par de telões.

Depois do show impecável de FLyLo, era a vez do britânico Kode9 empolgar os presentes com seu Dubstep. Uma selação boa de faixas e uma mixagem cheia de técnica garantiram a sua apresentação bons momentos e alguns passos de dança, mas a timida presença de palco parece ter feito com o que o público se sentisse um pouco acanhado também e não se soltasse tanto quando poderia. Parecendo se alongar mais que o previsto, era visível que alguns dos presentes olhavam em seus relógios e se perguntavam quando iria começar o show de Andre Laudz e DJ Zegon.

O duo Tropkillaz subiu ao palco e logo saldou o público com Boa Noite, um de seus singles de maior sucesso. Apesar da baixa na dupla (Laudz tivera problemas de saúde antes da apresentação), Zegon conduziu muito bem a rebolativa apresentação, mostrando seu ótimo misto entre Trap, Rap, Electro, House e Música Latina. Ajudado pelas projeções e por um MC, o produtor colocou todos a sua volta para dançar. Ao se olhar ao redor, era mesmo difícil ver alguém parado.

Além de faixas próprias, Zegon soltou alguns Raps das antigas, como Let Me Clear My Throat do DJ Kool, faixa que o MC disse ser uma de suas bases para o Hip Hop. Para encerrar seu set, o DJ tocou Dat Booty, música feita em parceria com a próxima atração, Party Favor que logo subiu ao palco e comandou o final da festa com mais Trap e músicas extremamente dançantes – incluindo um remix de Express Yourself de Diplo.

Encontrando um bom formato adequado e com boa presença de público, o primeiro Shut Up It´s Bass foi marcado por mais acertos que erros e por ótimos shows. Caso seja fixado como um festival fixo de São Paulo, esse pode ser uma boa alternativa ao público ávido por grandes eventos de música Eletrônica, como o finado Sónar.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts