Resenhas

Mac DeMarco – Salad Days

Em novo trabalho, que denota cansaço e amadurecimento, Demarco continua ótimo como sempre

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Ano: 2014
Selo: Captured Tracks
# Faixas: 11
Estilos: Beach Punk, Lo-Fi, Jizz Jazz
Duração: 34:46
Nota: 3.5
Produção: Mac Demarco
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fsalad-days%2Fid799685692%3Fuo%3D4%26partnerId%3D2003

“As I’m getting older”. Assim começa o terceiro álbum do canadense Mac DeMarco que, após a folia andrógina de seu álbum de estreia, Rock and Roll Night Club, e da atitude fanfarrona que preencheu seu maior sucesso, 2, parece atingir agora em Salad Days uma tônica, senão a de um adulto em vias de exaustão, ao menos, amadurecida.

A frase que abre Salad Days, de fato, parece ser o resumo do estado de espírito de Mac Demarco e, consequentemente, de todo o clima do álbum. “Salad days” é uma expressão idiomática que se refere à juventude, à inexperiência e ao entusiasmo. Assim, já na primeira faixa, que dá nome à obra, DeMarco não dá margem a equivocos e canta, “always feeling tired, smiling when required, write another year off and kindly resign … the salad days are gone”. Pode ser a consequência de uma carreira cansativa, alavancada pelo contrato com uma gravadora, pela obrigatoriedade de compor mais um trabalho inteiro em pouco tempo (Demarco falou um pouco sobre isso na entrevista que deu pra gente) e pelas exaustivas viagens das turnês subsequentes a esse processo.

Estilisticamente falando, Mac DeMarco continua exatamente na mesma linha de trabalho que já seguia, fazendo com que Salad Days se pareça, na verdade, uma espécie de “lado b” de 2. As mesmas guitarras cheias de reverb, o mesmo estilo de melodias nos riffs, e os mesmos trejeitos amolecidos do vocal de DeMarco. De fato, dada a proximidade com seu trabalho anterior, é impossível exigir outra coisa do compositor (e, convenhamos, de qualquer jeito, ninguém queria nada diferente mesmo). Assim, Blue Boy aproveita o rastro melódico de Ode to Viceroy (aproveitando, inclusive, a semelhança fonética de seu hit passado) e canta agora em suas letras os sentimentos advindos da fase atual que enfrenta. Podemos notar sintomas dessa vida mais reflexiva e resignada em vários momentos do trabalho, como na própria Blue Boy que diz “Calm down, sweetheart, grow up”, ou mesmo em Brother, que aconselha “Take slowly brother, let it go, go home”.

Mas não pense que, apesar da proximidade e do sucesso de 2, DeMarco se acomodou ou parou de evoluir. O que antes era a angústia de não ter a garota desejada em My Kind of Woman agora dá lugar à conformidade diante de um amor perdido em Let Her Go. Sonoramente falando, Demarco também dá lugar à suas novas experimentações com os sintetizadores (quem esteve presente nos shows do Brasil pode vivenciar esse fato ao vivo) que dão as caras em Passing Out Pieces e também na ótima Chamber of Reflection, uma de suas melhores músicas e ao mesmo tempo a que mais destoa do restante de sua obra. Esta última, que é uma metáfora sobre um método de meditação utilizado pela maçonaria, impressiona, se lembrarmos que esse é o mesmo cara que um dia descreveu a própria música como “Jizz Jazz”.

Um pouco mais melancólico e apresentando os primeiros sinais de exaustão diante de uma carreira que tem sido super hypada e exigente, o novo Mac DeMarco mostra que cresceu e que é humano, e, graças ao próprio esforço e cansaço, ensina, a seu modo, a respirar, refletir sobre os problemas pessoais, a aceitar a solidão e, assim, a se tornar uma pessoa melhor.

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BOM PARA QUEM OUVE: King Krule, Beach Fossils, Wild Nothing
ARTISTA: Mac Demarco

Autor:

é músico e escreve sobre arte