Há de se confessar dois impactos ao entrarmos em contato com Agent Cooper, terceiro álbum de estúdio de Russian Red, o nome artístico adotado por Lurdes Hernández. Logo de cara, vemos uma “nova” Lurdes na capa, que empunha uma arma militar enquanto traja um vestido dourado e olha para trás, em direção a nós com um olhar levemente blasé e de soberba. Mal parece a delicada moça de I Love Your Glasses e Fuerteventura com suas franjinhas e suéteres e vestidos delicados.
E as mudanças não ficam só na capa, vão para dentro do disco. Antes do lançamento do álbum, o que tínhamos como aperitivo do novo trabalho foi o single Casper, que também mostrou mudanças abruptas na sonoridade da jovem cantora. Se até então, o que de mais animado tínhamos de Russian Red era o instrumental da canção homônima ao segundo álbum da moça, em seu novo trabalho nos deparamos com intenso uso de percussão por parte de baterias, além de teclados e até mesmo linhas de baixo e guitarra.
Muitas vezes, o disco parece ser uma versão New Wave/Post-Punk, como na introdução do single Casper. Até mesmo uma das mais calmas canções e delicadas, como Xabier, William e ainda apresenta elementos que vão além do voz e violão e algumas teclas de piano que estávamos acostumados a ouvir nos trabalhos da madrilenha. Entretanto, temos em Neruda e Tim B um leve contato com o que ouvíamos nos dois primeiros discos da cantora, sendo a última citada – e a que encerra a obra – a única a fazer uso de violão – mesmo que não dedilhado com costumeiramente ouvíamos anteriormente -, o instrumento tão associado ao som de Russian Red.
Apesar da aventura de Lurdes não ter sido exatamente frustrada, o resultado acabou soando um pouco mais do mesmo de outros artistas e bandas que fazem o mesmo tipo de som. Além disso, perdemos o principal charme da cantora, que era sua voz doce e angelical com instrumentais simples e um clima agradavelmente intimista. De todo modo, Agente Cooper não desagrada, mas nos faz sentir falta da moça que nos fazia ter vontade de vê-la se apresentando em uma casa pequena com um banquinho, violões e olhares tímidos, assim como o som das cordas vocais da artista.