Resenhas

Phill Veras – Gaveta

Álbum traz um apanhado de composições engavetadas do músico maranhense resgatando referências diversas da MPB que parecem estar enraizadas em seu processo de composição

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Ano: 2013
Selo: Oi Música
# Faixas: 13
Estilos: MPB, Indie Rock
Duração: 53:19
Nota: 2.5
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fgaveta%2Fid768553137

Gaveta é o primeiro álbum do maranhense Phill Veras, que ganhou popularidade entre jovens fãs na internet com seu primeiro EP Valsa e Vapor e lançou recentemente A Estrada, com três faixas, todas presentes também em seu disco.

O nome foi escolhido justamente por serem canções que estavam na gaveta do garoto de 21 anos, compostas em diversos momentos de sua vida, ou seja, não foram pensadas especificamente para este disco, são apenas uma parcela das cerca de 70 faixas compostas pelo músico que parece ter respirado música popular brasileira desde sua infância.

O som de Phill transita entre referências básicas da MPB, puxando em nossa memória nomes como Zeca Baleiro e sua mistura de metáforas cotidianas para falar de temas profundos, Cazuza na agressividade de sua poesia e o romantismo tranquilo de Marcelo Camelo. Tudo isso de maneira muito natural e incorporando elementos mais grandiosos, como backing vocals, palminhas e um peso maior da banda em algumas faixas, deixando seu som claramente maior, mais limpo e mais acessível.

Dentro desse punhado de referências incorporadas pelo garoto, Phill traz arranjos previsíveis para letras simples e fica difícil enxergar sua própria personalidade ali. Seu som é pouco ambicioso, produzido dentro dos padrões, é acompanhado por bons músicos e o garoto tem uma boa voz. A partir daí portanto, é uma questão de pura identificação, você perceber se aquela mensagem, da maneira que esta sendo transmitida te emociona ou não e não me emocionou.

Suas letras são claramente seu bem mais valioso, mas, pessoalmente, ainda soam genéricas demais, trabalhando as palavras de uma maneira tão familiar que chegam a ser desinteressantes. Ele mesmo parece trabalhar suas composições utilizando-se deste tipo de construção por ser muito familiar, já que sempre ressalta que tudo em sua carreira é muito pouco planejado, apenas vai acontecendo.

É muito perceptível que as faixas não possuem muita ligação entre si, não há uma única temática recorrente, um recurso estilístico que una todas elas, além da própria narrativa da vida de Phill, o que é explicado quando ele nos conta que apenas reuniu diversas faixas compostas ao longo de sua vida.

A produção do disco também me incomoda, particularmente. Ela é bem conduzida, mas muito dentro dos conformes do padrão da música popular brasileira, ou seja, a produção não trabalha a favor do álbum, não percebe as necessidades particulares de cada faixa, cada trecho, o que até pode ser percebido por muitos como característica comum em um disco Pop, mas basta ouvir Quando Calou-se A Multidão do Guri para perceber que, mesmo dentro de um som menos inovador, é possível utilizar a produção como um recurso que acompanha a mensagem, da mesma forma que qualquer instrumento.

Assim como a produção, a interpretação de Phill ainda é muito linear, soa muito igual em todas as faixas e fica difícil enxergar em sua voz a sinceridade que acredito que exista em suas letras. A própria melodia, apesar de bem executada, parece ser um mero acompanhamento para suas letras, ao invés de expandir seu potencial de emocionar. Um único momento em que encontramos melodia, letra e interpretação trabalhando juntas e inclusive nos deparamos com algumas quebras de expectativas bem colocadas é na faixa Basta a Coragem, destaque do disco por soar mais sincera e um pouco mais ambiciosa.

Com Gaveta, Phill parece ter tirado das costas algumas faixas que vem andando com ele por muito tempo e isto pode fazer bem para a continuação de sua carreira, após expor muito mais sua arte e conseguir extrair mais significado dela e se encontrar melhor como artista. Não há dúvidas de que o garoto tem potencial e está cada vez mais cercado de bons nomes que vão influenciá-lo de alguma maneira, mas, por enquanto, apesar de acessível, é um som para poucos que consigam se identificar com sua poesia.

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BOM PARA QUEM OUVE: Guri, Ana Larousse, Vanguart
ARTISTA: Phill Veras
MARCADORES: Indie Rock, MPB

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.