Resenhas

Hooverphonic – Reflection

Oitavo álbum da banda belga foge um pouco do Trip Hop com a qual ficou conhecida para uma aproximação Pop sessentista

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Ano: 2013
Selo: Sony
# Faixas: 15
Estilos: Pop, Trip Hop
Duração: 41:19
Nota: 3.5
Produção: Alex Callier

Hooverphonic é um grupo belga de Trip Hop, ou melhor, era quando surgiu em 1995. Formado inicialmente por Alex Callier (guitarrista e programador), Frank Duchêne (tecladista) e Liesje Sadonius (vocalista), que deixou o grupo em 1998, sendo substituída por Geike Arnaert, a banda teve um início promissor. A popularidade do trio esteve alta em 1996, quando participou da trilha sonora do filme Beleza Roubada, de Bernardo Bertolucci, com a canção 2Wicky, criada a partir de um sample de Walk On By, de Burt Bacharach. No início, era certo dizer que a banda era uma variação mais pop de nomes como Massive Attack ou Portishead.

Ao longo dos anos 00, Hooverphonic manteve-se como uma banda relativamente cult, mas produtiva, até a saída da vocalista Geike, no fim de 2008. Pouco antes disso, o grupo entrou em atrito com a gravadora, reclamando da falta de apoio e divulgação por parte desta. Lançou um disco ao vivo, Sit Down And Listen To Hooverphonic, e assiou com o selo indie Pias. Era hora do grupo parar e pensar no próximo passo. A imagem de Geike era sua marca registrada e era necessário substituí-la. Abriram espaço para várias cantoras enviar fitas-demo e selecionaram justamente uma que não possuía qualquer experiência profissional, a encantadora Noémie Wolfs. Com ela à frente, a banda lançou o simpático The Night Before, em 2010, seguido por um belo registro ao vivo com orquestra em estúdio, lançado em 2012.

Reflection é o oitavo disco da carreira da banda, o segundo de estúdio com Noémie. Com o álbum, surgiu o conceito de “hooverdomestic”, na verdade, uma ação bem legal, na qual a banda escolheria lugares sugeridos pelos fãs para gravar as canções do disco. Isso levava em conta, inclusive, as casas dos admiradores, o que levou o trio a registrar as músicas em cinco casas na Bélgica, uma na França e em uma igreja. Para aqueles que conhecem a banda por 2Wicky, será um choque ouvir o novo disco, justamente pela ruptura com o formato baseado no Trip Hop de antes. A sonoridade da banda passou por uma mudança significativa, deixando qualquer traço de eletrônica para trás, em favor de uma musicalidade mais próxima do revisionismo do pop sessentista, com muitos timbres de bom gosto nas guitarras, baterias acústicas e precisas e o vocal de Noémie, mais alegre, leve e menos dramático, conferindo brilho solar a canções como Amalfi, Ether e ABC Of Apology, que remetem igualmente a momentos do Everything But The Girl e a registros noventistas de The Cardigans, sem, no entanto, fazer uso da inocência meio irônica da vocalista da banda sueca, Nina Persson.

Na verdade, o próprio Trip Hop tem, em sua gênese, a influência por variantes da música Pop, como as trilhas sonoras sessentistas, mas Hooverphonic empreendeu um avanço em termos de atualizar sua sonoridade. A voz de Noémie Wolff é ainda mais importante nessa nova mutação sonora e faz alguns momentos de Reflections apontarem para um futuro em que o trio poderá investir ainda mais nessa revisitação de climas e sonoridades do pop de outras décadas. Se isso acontecer, será com graça, propriedade e conhecimento de causa. Este é um dos grandes discos discretos de 2013, daqueles que serão ouvidos por poucos e não estarão em listas badaladas. Corra e conheça.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.