O coletivo OFWGKTA, liderado por Tyler, The Creator foi extremamente benéfico para o Hip Hop. Por acreditar em artistas novos, extremamente talentosos e com proficiência na criação de batidas, acabou virando de cabeça pra baixo o gênero além de o polemizar com sua temática mais soturna. Mellowhype é um dos embriões do fenômeno, e seu segundo disco acaba decepcionando por justamente se concentrar em uma atmosfera já conhecida e extremamente abordada em 2013.
Numbers não chega a ser ruim mas é uma verdadeira montanha russa – com um trajeto composto basicamente por cume, limbo e um sprint final com uma aceleração média. O boom inicial eleva as expectativas com a interessante Grill. As batidas feitas por Left Brain encaixam perfeitamente com os versos de Hodgy Beats, mostrando toda a usual interação do duo. A sequência com a epopeia 65Breakfast é simplesmente perfeita. Umas das melhores músicas do álbum e de 2013, é extensa, muito bem composta e tem uma transição que muda todo o espírito da faixa mas não diminui o seu elevado nível.
No meio de tudo isso vem La Bonita sopro de criatividade e distinta de todas as músicas anteriores do duo. Dançante, swingada e muito mais sacana que agressiva, a canção demonstrava uma direção que infelizmente não é seguida posteriormente no disco. Antes disso, a parceria com Frank Ocean em Astro, evidencia ainda mais a capacidade plural do coletivo, cheio de artistas talentosos e distintos apesar de uma temática bastante compartilhada entre si. Beat pode ser considerada o último sopro antes de uma anunciada queda.
As faixas seguintes: Snare, Untitled L,Leflair e Monster são bastante genéricas e a diferença entre o seu início e fim é quase imperceptível se não fossem as letras distintas. Longe de serem ruins é tudo o que Odd Future cansa-se de fazer e acabam não acrescentando nada ao álbum, a não ser a natural dispersão que abraça o ouvinte. Após este bloco, algumas canções esparsas destacam-se como a letárgica e psicodélica 666, um rap chapado e propício para o relaxamento e Under 2, excelente balada viajante.
Numbers poderia ser um ótimo sucessor do debut do Mellowhype, no entanto, prefere dividir-se entre extremos – criatividade e obviedade. O resultado final decepciona pelo que poderia surgir das ótimas La Bonita ou 65. Por exemplo, P2, uma das piores faixas do disco que tem a participação do excelente Earl Sweatshirt, sendo desnecessária e irrelevante. Bastante conservador mas com alguns momentos brilhantes, o segundo disco do duo acaba com um gosto amargo na boca do ouvinte e com a sensação de que continuidade do trabalho depende somente dos desmembramento da atmosfera cada vez mais comum entre alguns artistas do OFWGKTA.