Existem certas fases na vida que a diferença entre um ano e outro é brutal. Você sente uma pessoa diferente e preocupações, amigos e hábitos podem se transformar completamente. Ano passado, Jake Bugg lançava o seu primeiro disco ao mesmo tempo em que as inevitáveis comparações com Bob Dylan começavam a surgir – junto com o apreço do público feminino com jovem de 18 anos.
Ano novo, vida nova e se o título de um disco realmente importa, sendo escolhido um com propósito, Shangri la é a mudança de ares rumo a terra prometida. Símbolo do budismo, a cidade paradisíaca no Himalaia em que o tempo paralisa-se em meio a felicidade e iluminação, surge como uma oposição ao então menino do Folk que em pouco tempo se jogou as guitarras e agora faz Rock. Mais comparações com Dylan virão a partir de tal constatação mas a verdade é que Jake parece mais maduro apesar de sua voz muitas vezes denunciar a sua idade.
O lado elétrico vem muito da produção de Rick Rubin, cabeça por trás de discos do Metallica ao Red Hot Chilli Peppers, que aliás teve o seu baterista, Chad Smith, participando das gravações. There’s a Beast and We All Feed It abre o disco dançando junto com o ouvinte, demonstrando um lado menos ingenuo do músico. A continuação em Slumville Sunrise é um belo de Blues Rock com toques no seu refrão extremamente propícios para a rádio. Aliás, apesar de soar muito mais inventivo em seu trabalho, Jake consegue criar músicas excelentes para faze-lo ampliar a sua audiência.
São em momentos como What Doesn’t Kill You, faixa que lembra os primórdios do Arctic Monkeys ou Kingpin que Bugg gasta a sua voz, arranca gritos e aos poucos consegue demonstrar-se algo além de um simples menino que toca violão. Evidentemente, as baladas estão presentes, junto com seu ótimo Folk e devem agradar o fãs de seu auto-intitulado disco de estreia.Messed Up Kids é bastante agradável enquanto A Song About Love é extremamente confessional. Ambas tem arranjos interessantes e são uma clara evolução no som do artista.
O melhor acaba ficando para o final, no chamado lado B. Kitchen Table é Jake controlando a sua voz e sabendo concilia-la muito bem com a orquestração mais sensual que o piano e a guitarra delineada proporcionam. Simple Pleasures tem um simples mas cativante solo introdutório que acaba conduzindo a faixa inteira. A música cresce além das próprias expectativas e se torna o grande momento de todo o disco.
A iluminação indicada no título de Shangri la se materializa na faixa, e demonstra ao mesmo tempo o lado anterior do artista e a sua nova faceta mais roqueira e muito mais impactante. Como um segundo disco – com todos mitos, mistérios e inseguranças- o trabalho de Bugg acaba se mostrando efetivo, interessante e nos deixa curiosos para a sua apresentação em terras brasileiras no próximo Lollapalooza.