Resenhas

Paul McCartney – New

Nova obra do ex-Beatle nos mostra o conhecido potencial dele para produzir discos sempre bons

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Ano: 2013
Selo: Universal
# Faixas: 14
Estilos: Rock
Duração: 52:18
Nota: 4.5
Produção: Giles Martin, Mark Ronson, Paul Epworth, Eathan Johns

Paul McCartney é o próprio vovô garoto. Do alto de seus 71 anos de idade, casado desde 2011 com Nancy Shevell, sua terceira esposa, dezenove anos mais nova, Paul desfruta de uma bem resolvida “terceira idade”. É o orgulhoso portador do legado da maior banda de todos os tempos, se mantém produtivo e relevante artisticamente, aceita com boa vontade uma condição próxima de um semideus da música pop e parece, de fato, ser um boa praça. Ele sabe muito bem que o planeta parece não se importar muito com sua produção musical atual, até a hora em que algo parece errado. Se Macca lança um disco fraco, choverão comentários dando conta dele estar ultrapassado, de não precisar fazer nada de novo, de ter perdido a forma. Ele também sabe que as pessoas vão a seus shows sempre lotados em busca de canções de 40, 50 anos atrás. Então, por que se arriscar e continuar lançando discos?

Grana? Paul é o músico mais rico do mundo, com justiça. Alguma necessidade de provar algo? Não, claro que não. Macca lança discos em pleno 2013 guiado pelo prazer em gravar, por estar à frente de uma banda de bambas (ele jamais esteve tanto tempo com a mesma banda, notem) e por ainda ter lenha para queimar. Seus discos recentes, digamos, desde os anos 00, não se repetem, o homem tem necessidade de inovar, de não criar limo e, ainda assim, soar como o beatle com cara de bebê, o genro que toda mãe inglesa dos 60’s gostaria de ter.

New é um disco sensacional por vários motivos. A leveza absoluta é seu primeiro predicado. Paul é o criador do powerpop, aquela mistura perfeita entre guitarras e melodia, presente desde Drive My Car no mapa mundial. Se em Now não há – e nem poderia – haver algo do mesmo calibre, há uma assunção de que a música deve ser lúdica, mas verdadeira. Como Paul está alegre e satisfeito, o reflexo imediato vem em canções como a faixa título, Appreciate, Save Us. Looking At Her ou Turned Out. New não deve ter sua leveza confundida com descartabilidade. Ainda que a busca por produtores jovens e badaladinhos do cenário pop atual (Paul Epworth trabalha com Adele, Mark Ronson lançou Amy Winehouse, Eathan Johns pilota discos de Laura Marling e Giles Martin é o filho de Sir George Martin) possa parecer desnecessária ou responsável por um certo clima eletrônico ao longo de suas faixas, New é puro Macca. A alternância entre canções pop ensolaradas e outras, românticas, sérias, conscientes é o padrão que o homem forjou. Neste segundo grupo de canções estão as belas Early Days (uma balada como Macca não fazia desde os anos 70), Hosanna, Get Me Out Of Here e a faixa escondida Scared.

New é não é novidade na carreira de Macca. Discos como McCartney, McCartney II, Flaming Pie ou o superestimado Chaos And Creation In The Backyard mostram o quanto o homem não se contenta em repetir fórmulas. Ainda que tente, sempre haverá uma essência, um toque, uma impressão de que estamos ouvindo aquele mesmo sujeito, que está presente em nossas vidas há muito, muito tempo. Maravilha de disco.

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MARCADORES: Ouça, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.