Resenhas

Cage The Elephant – Melophobia

Busca por uma nova sonoridade e abordagem da loucura como tema fazem deste disco uma das obras mais interessantes do ano

Loading

Ano: 2013
Selo: RCA Records
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Grunge
Duração: 37:23
Nota: 4.5
Produção: Jay Joyce
SoundCloud: /tracks/112765354

Cage The Elephant teve um desafio com o lançamento de seu novo disco. Como mostramos em nosso artigo especial sobre a banda, sua sonoridade foi sempre marcada por uma tentativa bem sucedida de misturar um pouco de Grunge com uma ambientação jovem e alegre. O show que o quinteto fez aqui no Brasil em 2012, na primeira edição do festival Lollapalooza deixou claro que sua sonoridade se reflete na presença de palco, com direito stage dives, vocalistas que pareciam estar em outra realidade (auxiliados por alguns psicotrópicos) e uma plateia que retribuía o espírito jovem na mesma medida em que recebia. A questão é: por dois discos, a banda utilizou essa fórmula e, portanto, o medo de permanecer na mesma sonoridade era algo real. Ainda que fosse algo muito interessante, é sempre perigoso não inovar o som, podendo mostrar algo de preguiçoso ou apenas de uma nostalgia excessiva. Mas o que se vê aqui é algo longe da preguiça (longe mesmo).

Melophobia tem um nome apropriado. O termo significa “medo de música” e é exatamente um sentimento que nos permeia durante sua execução. Longe dessa fobia ser traduzida em algo tão forte que te impeça de escutar o disco, a banda resolveu trabalhar a nova sonoridade exagerando um elemento de psicodelia, porém diferente do que escutamos nos trabalhos de Tame Impala e Os Mutantes. A viagem que as músicas nos causam são propostas para que achemos que estamos na mente de uma pessoa louca (no sentido mais patológico da coisa) e, dentro desse ambiente hostil, estamos ameaçados pela constante presença da imprevisibilidade. E é daí que vem a sensação de medo.

A loucura de Cage The Elephant vem evidenciada por meio de vários elementos. Um deles acaba se mostrando no experimentalismo que seus guitarristas fizeram nos efeitos de seus instrumentos. It’s Just Forever nos mostra uma espécie de distorção com um fuzz, mas que parece qualquer outro instrumento de cordas do que uma guitarra propriamente dita. Até mesmo em Take It Or Leave It, os instrumentos de cordas acabam simulando sintetizadores nos primeiros segundos da faixa, desconcertando um pouco o ouvinte e contribuindo mais para que ele se perca na mente insana de Melophobia.

Outro elemento que contribui para o ambiente hostil e louco que o álbum forma são os novos instrumentos que a banda integrou à sonoridade. Spiderhead mostra uma linha de piano, indo contra todo o aspecto Grunge dos primeiros discos e mostrando novas misturas interessantes, enquanto It’s Just Forever mostra um improviso maluco em seus últimos segundos. O uso de metais como saxofone, trombone e trompete acabam tocando algumas vertentes do Ska, mas não se concretiza como gênero dominante da música porque, novamente, as guitarras experimentadas mostram outro caminho (principalmente observada da faixa Black Widow).

Mas não só os instrumentos que deixam o disco hostil. Em várias faixas, a banda usou um recurso de repetição que simula discos riscados e ficam voltando sempre ao mesmo ponto. Spiderhead é uma que brinca bastante com isso, assim como Teeth, que acrescenta um improviso experimental com muito eco e o vocalista proferindo uma espécie de mantra-poema que nos hipnotiza, entrando cada vez mais fundo na mente doentia desse disco.

Melophobia é um mais um ponto positivo para Cage The Elephant. Criar algo que transcende o sentido da audição e brinca com sentimentos mais internos é algo notável, ainda mais quando resolve sair de sua zona de conforto, mesmo que a sonoridade antiga seja um caminho certo para aprovação. Vemos uma banda mais madura, com uma proposta interessantíssima. Esperamos que a estimativa do grupo vir ao país no ano que vem se concretize, pois, se foi uma experiência ímpar escutar o som de uma mente louca, a mesma sensação deve se repetir ao ver isso ao vivo.

Loading

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique