Willis Earl Beal é o típico músico que não pertence ao seu tempo. Seu som cru e de pura alma negra, se assemelha ao Blues rústico, àquele cantado por escravos em lavouras norte-americanas no século XIX e que simbolizava ao mesmo tempo a liberdade de extravasar e angústia de uma vida sofrida. O gênero é primordial a música contemporânea como um todo, e dele é que podemos partir para toda a gama de ritmos posteriores como o Jazz, Soul e R&B.
Se sua voz já denuncia um poder gigantesco, sendo tocada a partir de bases extremamente simples e que evidenciam ainda mais o seu virtuosismo, quem diria se conhecêssemos a sua história. Suspenso do exército por conta de problemas intestinais, o jovem pobre se viu morando na rua durante um tempo enquanto trabalhava como guarda noturno na cidade de Albuquerque. Sua forma de sair dessa situação foi começar a gravar CD e distribui-los pela cidade, enquanto espalhava curiosos cartazes em busca de uma namorada. Como em um conto de fadas, o músico foi descoberto e Nobody Knows é o segundo disco.
Ao longo de 13 faixas somos jogados para estruturas musicais distintas mas que sempre acabam demonstrando um talento único. Na maior parte do tempo, a melancolia predomina e o minimalismo traz uma relação mais próxima entre o músico e o ouvinte. Everything Unwinds é quase a história de sua vida, “tudo se transforma” em uma batida densa. Burning Bridges é um pouco mais crescente mas ainda sim de certa forma transcendal e o músico parece em cada música trabalhar como se fosse o seu último momento. É chocante e emocionante perceber que o que Willis expressa aqui é verdadeiro.
Too Dry to Cry é seca e direta como o seu nome pede, e tem na utilização de uma bateria o ritmo proposto para talvez o momento mais confessional de todo o disco. Pequenos detalhes como os assobios e correntes de Ain’t Got Love ou o piano direto de Blue Escape nos fazem relembrar quando a música era feita puramente com alma e quase sem auxílio de instrumentos ou produções, mas com sentimento e feeling.
Talvez tanta crueza e densidão faça com que a audição do disco se torne um pouco pesada e triste, algo que claramente Willis quer expressar em cada faixa aqui. No entanto, ao capturar o melhor da música negra como na faixa título, um Gospel puríssimo e que poderia servir de auxílio aos mais desesperados ou no Blues sem instrumentos de Wavering Lines, somos transportados para outro tempo, algo semelhante ao visto na trilha sonora do filme *E ai, Meu Irmão, Cade Você?” dos irmãos Coen.
O minimalismo é deixado de lado em Coming Through, canção mais dançante com participação de Cat Power e que mostra que uma produção aberta pode trazer ainda mais Swing e potencial a voz deste talentosíssimo músico. No entanto, o núcleo do disco é concentrado na pequena instrumentação e evidencia de que Willis Earl Beal é dono de um instrumento, história e sentimentos únicos que teleportam ouvintes a um som rústico, confessional e, acima de tudo belo, algo que não é muito visto por aí usualmente e que faz parte da cultura típica do sul dos EUA.