Resenhas

San Fermin – San Fermin

Ellis Ludwig-Leone e grupo fazem uso de sua herança Clássica para compor seu estilo próprio de espírito Pop

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Ano: 2013
Selo: Downtown Records
# Faixas: 17
Estilos: Baroque Pop, Chamber Pop, Post-Rock
Duração: 51:03
Nota: 4.0
Produção: Ellis Ludwig-Leone e Nico Muhly
SoundCloud: /tracks/70129322

O americano Ellis Ludwig-Leone não consegue escapar da erudição que possui de herança. Longe de ser um problema, é justamente o suporte de Música Clássica que torna seu projeto San Fermin tão particular. No decorrer das seis semanas que o grupo passou em estúdio para o registro de sua estreia homônima, conseguiu firmar em San Fermin o estilo que lhe destaca e a sonoridade que vai lhe impulsionar em direção a um futuro promissor.

De espírito Pop mas vestido de Clássico, San Fermin se situa num universo Chamber Pop, ou Baroque Pop, porém menos bucólico e um tanto mais sisudo. Aliás, bastante sisudo. O álbum, ao longo de suas 17 canções, justamente por conta de sua roupagem, é pesado – tome em consideração a instrumentação grandiosa de pianos de cauda e arranjos de cordas, além do vocal grave do barítono Allen Tate, sempre soando muito sério. Todo o universo do grupo transita sempre dentro deste território, desde as referências vindas dos próprios nomes das músicas, entregando explicitamente sua herança erudita – Rennaissance, Casanova, Lament for V.G. – ao ar empoeirado das fotos escolhidas para a retratação do grupo, assim como a arte gráfica da capa. De qualquer modo, dentro desta ambiência proposital, o grupo está sempre soando muito belo e faz uso imoderado de seus arranjos riquíssimos.

San Fermin faz referência ao meu livro favorito, de meu autor favorito: O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway, que se situa (boa parte dele, ao menos) na cidade espanhola de Pamplona, e evoca sua Festa dos Touros. E é justamente na imagem do animal e em sua potência simbólica que a banda se apoia, conseguindo, intencionalmente ou não, esta força grandiosa das composições do grupo.

Por mais que soe hermético, o álbum contém uma série de respiros no decorrer de seus 51 minutos. Interlúdios instrumentais, assim como arranjos vocais femininos representam o lado mais claro – e Pop – do trabalho, como no videoclipe abaixo. Transitando entre paisagens sonoras, desconstruções friamente calculadas – como em Bar – erudição clássica e ar contemporâneo de Pop Experimental, San Fermin chega com a potência do imaginário que evoca, firma-se como uma experiência bem-sucedida de álbum completo (além da experiência isolada das músicas) e já abriu caminho com sua força para deixar seu nome registrado como uma das aparições mais singulares do ano.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte