Resenhas

MGMT – MGMT

É possível que você não estivesse esperando muito deste terceiro disco da dupla. No entanto, as coisas poderiam ser muito piores aqui

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Ano: 2013
Selo: Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Rock Psicodélico
Duração: 44:10
Nota: 3.0
Produção: Dave Fridmann, MGMT

Dizem por aí que o segredo da felicidade está em saber ponderar as suas expectativas. Não se entusiasmar ou deslumbrar-se com muita antecedência parece ser a solução para que nos frustremos menos, e consequentemente sermos mais felizes. É óbvio que tal questão tem um abrangência muito maior, no entanto, pode ser muito bem associada ao MGMT, um grupo que foi do céu ao inferno em apenas dois discos e alguns concertos por aí.

A estreia da dupla parecia um conto de fadas sendo realizado. Dois jovens americanos, pseudo párias da sociedade e com um gosto por psicodelia, drogas e diversão lançariam logo de cara um disco com hinos que ainda são tocados por aí em exaustão. A nova onda psicodélica parecia ganhar força ao redor do nome do grupo e logo os olhos e ouvidos se atentariam para um esperado segundo disco. Congratulations fugiu totalmente da aura conservadora de uma obra que viria suceder um tremendo sucesso, e começou a beber de uma fonte ácida um tanto duvidosa e talvez muito lisérgica para quem apenas esperava mais uma Kids ou Electric Feel da vida.

Particularmente, eu não considero o segundo álbum da banda necessariamente ruim. Alguns bons momentos aparecem mas a verdade é que o disco patina em encontrar um hit ou ao menos um single vendável. Ao mesmo tempo, os shows bipolares do grupo como o visto no nossa Lollapalooza do ano passado fizeram com que cada vez mais a dupla caísse na dúvida, e passasse a ser lembrada como uma promessa que não deu certo. Agora após seis anos de sua estreia, o que você espera de MGMT?

Certamente um fracasso, uma viagem triste ou nada demais. No entanto, como tudo na vida é uma questão de medir as suas expectativas, o disco acaba se saindo menos mal do esperávamos e isso é realmente bom. Obviamente, este novo lado marginal psicodélico do grupo, fugindo de padrões pré-estabelecidos na criação de músicas continua presente aqui mas algumas influências são mais bem notadas e conseguimos ao menos entender a direção artística que eles tomaram.

Um pouco de Velvet Underground é visto na boa Introspection, faixa que traz letargia na guitarra em drone e transpira psicodelia sessentista. A falta de contexto e náusea sonora característica do início de carreira do Pink Floyd, pós Syd Barrett é sentida em Mistery Disease , Good Sadness e Your Life is a Lie. Complicadas e longe de serem facilmente compreendidas de cara, mostram-se interessante após alguns belos exercícios de paciência. Aliás, tal substantivo parece ser o que menos os ouvintes acostumados aos hits passados querem ter neste momento.

Alien Days é excêntrica com suas vozes infantis e pode ser uma escolha um tanto arriscada para uma faixa de abertura mas um pouco do formato acústico visto muito em Oracular Spectacular surge como uma grata surpresa. Alguns momentos demoram pra engrenar, e nos fazem relembrar um pouco mais dos fracassos da banda como Astro-Mancy, faixa bem chata ou a lenta e sonolenta An Orphan of Fortune. No meio termo encontram-se a alegre e ensolarada Plenty of Girls in the Sea, e a tentativa de se justificar no uso de excessivo de drogas, I Love you Death.

Ao final, MGMT, é um pouco melhor do que poderíamos esperar do grupo. Baseado substancialmente na psicodelia dos anos 1960 e bebendo em alguns momentos de belas fontes, a dupla parece querer se afastar do mainstream e seguir o caminho inverso da música psicodélica contemporânea. Rebeldes, os garotos parecem já ter alcançado o sucesso que desejavam com seu disco de estreia e agora querem somente brincar com a letargia e o ácido correndo em suas veias. Se você ainda tiver paciência para escutá-los, saiba que sem expectativas as coisas fluem muito bem, somente se prepare para uma digestão lenta de um disco que a principio parecia um fracasso mas que nem é tão ruim assim.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.