Sabe aquele disco que você sente que é especial assim que dá play? Mesmo que você não dedique toda sua atenção a ele desde o início, mas algo te sussurra em cada “entrefaixa” que o que está tocando é um caprichado produto de uma mente talentosa. Foi com essa sensação que passeei por Sonik Kicks, do veterano Paul Weller, e as audições seguintes só me confirmaram que as suspeitas estavam mais que certas.
Arriscando novas sonoridades neste seu 11º álbum, o músico soube experimentar com elementos eletrônicos sem perder a mão em momento algum. É isso que dá ter 36 anos de carreira: Weller conhece os terrenos em que pode pisar e onde entrar sem muitos excessos, criando uma obra que parece vir na medida certa.
É brincando com nossa percepção que ele abre o disco com Green, a faixa cheia de energia que brinca com o estéreo ao fazer o som migrar de uma orelha para outra. Isso serve para nos deixar atentos aos detalhes de produção que virão dali pra frente, ao mesmo tempo que nos relembra que o músico sabe como nos guiar por suas composições.
A grande variedade de estilos presentes no disco revela o caráter “experimental” da obra. Falo isso entre aspas porque Experimentalismo tem pouco a ver com o que o músico faz aqui. Talvez, esse conceito esteja mais ligado à postura do público, que talvez precise abrir um pouco a mente para aceitar os novos sons.
Ainda assim, os ritmos folclóricos de King I Klang e o soul de That Dangerous Age, por exemplo, encontram pacificamente seu espaço ao lado de faixas divertidas, como The Attic, e composições muito bonitas, como By the Waters e When Your Garden’s Overgrown.
Sonik Kicks não é nada difícil de aproveitar – outro motivo para eu não chamá-lo de experimental – e, quer você pare o que está fazendo para ouvi-lo ou não, provavelmente perceberá sem muito esforço que se trata de música muito bem feita por quem sabe quando, como e por que arriscar.