Explosivo é o adjetivo mais adequado para definir o grupo campinense de Rock Progressivo com levadas Punk, Lisabi. Direto, e com uma gravação sonora de vocais que não nos deixa esquecer que estamos diante de um demo, a curta obra surpreendente pelo pluralismo musical e pelas bem definidas influências, sendo enérgica e viajante no momentos certos.
Acts é uma demonstração do quão interessante o som moderno pode se tornar quando temos acesso a toda uma biblioteca musical ao alcance das teclas de um computador. Posso até estar errado e recitar o inconsciente coletivo de Carl Jung, em que as ideias estão soltas no ar e que podemos tanger propostas semelhantes mesmo em diferentes lugares do mundo, mas a banda do interior de São Paulo parece claramente se influenciar no som dos grupos de Omar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala, At The Drive-In e Mars Volta.
A energia Punk do primeiro grupo pode ser visto na faixa de abertura Senseless Acts of Violence, um soco no estomago com seus vocais gritados e uma guitarra repetida conduz as idéias. No entanto, as diferenças entre influências e produto começam a aparecer quando um vocal feminino aparece e deixa as coisas muito mais leves. A viagem sonora existe, e o acréscimo de um saxofone faz com que a proposta faça ainda mais sentido. Hostage Pt.1 é puro Jazz, sexy e propicio para abertura da faixa seguinte, a marsvoltiana Hostage Pt.2. Faixa perigosa em um show, sobe e desce em sua energia e deve levantar os cotovelos dos mais empolgados quando escutada ao vivo.
Demonstrando uma ótima mistura de vocais, o grupo também surpreende ao cantar em três línguas diferentes: português, inglês e espanhol. O melhor momento fica com a “brazuca” e gigantesca faixa de sete minutos, Arma de Tchecov. Bem psicodélica, tem uma introdução vistosa na bateria e provavelmente o melhor momento instrumental do disco. As ideias parecem se encaixar bem e o entrosamento dos membros do grupo permitem a criação de uma faixa que faria Omar e Cedric sorrirem de olhos fechados. Mydriasis é a calmaria que fecha muito bem o EP, e se confunde com uma atmosfera desértica e latina, ao ser conduzida em um violão e voz em espanhol, com uma ótima secção de sopros lisérgicos.
A energia vista em Acts e a sua capacidade em criar um espaço tão curto de tempo, cinco faixas, propostas tão distintas mas ao mesmo tempo com uma unidade entre si, são as maiores virtudes vistas aqui. Surpreendente do começo ao fim, o EP serve como alívio musical para os fãs brasileiros de Mars Volta, que agora podem ver um grupo se espelhar na extinta banda no nosso território. Lisabi aos poucos demonstra um belo sopro de criatividade na música brasileira atual.