Resenhas

Jay-Z – Magna Carta… Holy Grail

Mais recente empreendimento do rapper não é tão bem sucedido quanto esperávamos, mas ainda assim tem o seus bons momentos. O que falta para o músico retornar aos trilhos?

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Ano: 2013
Selo: Roc-A-Fella, Roc Nation, Universal
# Faixas: 16
Estilos: Hip Hop
Duração: 59:04
Nota: 3.0
Produção: Jay-Z, Timbaland, Pharrell Williams

Jay-Z é um homem negócios. Desde o seu primeiro álbum de estúdio, Reasonable Doubt de 1996, até o seu mais recente empreendimento, Magna Carta Holy Grail, um império foi construído e milhões foram ganhos. No entanto, uma carreira musical louvável e incontestável até o clássico Black Album de 2003 parece ter perdido aos poucos o espaço na vida do músico e aparentemente o trono está lentamente mudando de dono no Hip Hop.

Curiosamente, não é o que diz o público, dado que seus últimos discos alcançaram constantemente as paradas de sucesso, e Magna já se tornou platinado nos EUA. O que está em jogo aqui não é popularidade de um rapper que chegou a ser considerado o melhor letrista do estilo depois de Notorious B.I.G, um cara que simplesmente não escrevia os seus versos e simplesmente improvisava quando chegava ao estúdio. O que levamos em consideração nesta análise é somente a sensação de que Jay parou de certa forma no tempo e que o seu espaço está sendo cada vez menos gasto com seu principal ofício, a música.

Não que ele não esteja ligado a indústria. Dono da Def Jam Records, é também parceiro da Roc-A-Fella-Records e fundador da Roc Nation. Ele também é acionista minoritário do Brooklyn Nets, novíssima franquia da NBA e dono de clubes noturnos em Nova York. Diversificação é uma das estratégias básicas do crescimento de receita, e Jay sabe fazer muito bem isso. Em Magna, tanta ostentação em suas letras é pertinente, dado que uma riqueza de mais de 1 bilhão de reais segundo a Forbes não é nenhuma brincadeira. Mas se há dez anos atrás ele tinha “99 problems and a bitch ain’t one”, atualmente seu problema com mulheres continua nulo dado que o mesmo compartilha a sua cama com Beyoncé, mas sua vida parece muito menos interessante.

O segredo do sucesso está ai e como um influente e bom homem de negócios, Jay convocou a sua trupe de colaboradores que fazem inveja a qualquer um. Estão aqui Justin Timberlake, Beyoncé, Nas, Rick Ross, Frank Ocean entre outros. A produção é muito boa e temos aqui boas músicas mas que não aparentam tanta inovação com o que vimos em Watch Throne ou simplesmente quando comparamos ao excelente Yeezus de Kanye West. Holy Grail é interessante principalmente por Justin, mas chega a ser irônico ver o rapper usando um verso de Smells Like Teen Spirit do Nirvana enquanto o mesmo ganha milhões promovendo seu mais novo disco através de uma aplicativo pra Samsung.

“I just want a Picasso, in my casa, no, my castle” é a frase inicial de Picasso Baby, faixa que tem um baixo já visto muito bem em American Gangster de 2007. Tom Ford parece a recriação de batidas antigas do início da década, enquanto as letras parecem pouco inspiradas e Jay meio preguiçoso. Quando tenta ser um mais inovador, o rapper parece deslizar em sua falta de coragem ou impeto para que suas canções durem um pouco mais. São em momentos como Versus, ótima faixa de menos de um minuto em que os versos “The truth in my verses, versus, your metaphors about what your net worth is” soam certeiros a todos os companheiros de profissão que falam mais do que realmente representam. Ou em Beach is Better, distorcida e raivosa como todo disco novo do Kanye mas que também dura menos de um minuto.

Em compensação, boas batidas são desperdiçadas em músicas como FuckWithMeYouKnowIGotIt, momento tão repetitivo que te faz até esquecer a sua interessante construção. Mas como ainda estamos lidando com um dos maiores rappers da história, nem tudo está perdido. Nas faixas que ele deixa o seus colaboradores brilharem mais do que seus versos sobre seus belos diamantes ou carros esportivos, podemos ver Magna decolar na medida certa, sem um controle de tempo. Oceans com Frank Ocean é simplesmente brilhante, e poderia muito estar no setlist do disco solo do músico enquanto a parceria entre Jay e sua esposa demonstra a sua percepção diante de outros estilos ao realizar uma faixa viajante na pegada de Jessie Ware.

Solo, podemos elogiar a ótima e com o melhor sample do disco, Somewhere in America e também a confessional e inspirada em Losing My Religion do R.E.M, Heaven. O lado pai e preocupado com seu estilo de vida, Jay Z Blue ( Jay Z triste) é a música em que mais nos conectamos ao músico e vemos que talvez tanta ostentação, apesar de ser explorada intensamente, não parece ser tão relevante quanto a sua família.

Paradoxalmente, a faixa que parecia servir como definição de que o rapper ainda é o cara, Crown, desliza não só em conteúdo lírico “You in the presence of a king Scratch that, you in the presence of a God” como nas batidas e andamento, sendo um dos momentos mais fracos de toda obra. E chega a ser levemente triste constatar que a música estelar, com todas as participações especiais citadas acima, BBC seja tão desinteressante e vintage no sentido errado. Sua batida “Timbaland” (o mesmo a produz), nos faz viajar a 2005 e constatar que este estilo de música se perdeu naquele período. No entanto, com certeza será um single platinado.

O Hip Hop visto aqui parece um pouco datado para quem procura inovação mas deve encontrar o seu público, principalmente porque o nome de Jay-Z ainda vende muito. O marketing com o lançamento de Magna parece ser mais eficiente que o disco em si, e sentimos a falta de um hit certeiro, como Empire State of Mind de seu último disco Blueprint 3 de 2009. Aliás, muitas coisas mudaram no gênero neste curto espaço de tempo, e a coroa é de quem consegue se destacar mais ao mesmo tempo que tenta evoluir com o estilo. Talvez dividir as atenções entre diversos negócios, família enquanto tenta se manter relevante esteja sendo um problema para Jay. Mas nada que vá afetar a sua conta bancária ou a sua percepção de que é Frank Sinatra, Michael Jordam e Muhamed Ali ao mesmo tempo. Preferimos que volte a ser Shawn Corey Carter e nos proporcione os ótimos momentos que nos acostumamos a ouvir, há muito tempo atrás.

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ARTISTA: Jay-Z
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.