Resenhas

Tripwires – Spacehopper

O Britpop retorna no disco de estréia destes garotos ingleses. No entanto, ele vem cristalizado sob a forma de um som bastante psicodélico mas compreensível.

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Ano: 2013
Selo: Frenchkiss Records
# Faixas: 11
Estilos: Rock Psicodélico, Britpop, Shoegaze
Nota: 4.0
Produção: Tripwires

Nostalgia é um termo que descreve uma sensação idealizada, muitas vezes irreal mas que sempre que aparece, causa um certo êxtase. O dejá vu pode ser o tipo de comunhão direta entre o sentimento e o momento percebido. Já vi isso antes. Talvez em um primeiro momento, dado o turbilhão de referências que vemos no excelente disco de estréia do Tripwires, Spacehopper, este pensamento venha a cabeça do ouvinte mas pode relaxar e deixar de lado os pré conceitos, e se aventurar em uma aventura que demorou muito tempo pra acontecer.

Os anos 1990 nos lembram diversas coisas como Grunge, Copas do Mundo vencidas e perdidas, o Nintendo 64 e aquele seu vizinho jogando Playstation, o Hip Hop clássico, o surgimento da Internet comercial. Mas algo, pelo menos pessoalmente, sempre me chamou muita atenção: o Britpop. Gênero musical que revitalizou de certa forma a música no Reino Unido ao unir elementos passados com toques mais populares se materializou em grupos como Oasis, Suede, Blur e Radiohead. É óbvio que cada um seguiu o seu caminho, alguns mais conservadores e outros mais inovadores mas é inegável que mudou alguns paradigmas na música.

No entanto, com o surgimento do Indie Rock, tal estilo se perdeu em meio a algumas guitarras sem distorção e baladas mais diretas. Felizmente, podemos ver um renascimento do gênero nestes rapazes de Reading mas com outras facetas totalmente inesperadas. Temos muito Rock Psicodélico com uma voz que lembra bastante a de Thom Yorke em alguns momentos, outros um pouco mais levados para o Shoegaze de bandas como My Bloody Valentine mas sem nunca perder consistência ou impacto. Chega a ser curioso uma releitura de um estilo tão radiofônico ganhar uma forma onírica e inesperada.

Ao longo de onze faixas, chega a ser complicado escolher qual se adequa mais ao título de melhor momento. Wisdom Teeth é uma balada sincera que poderia muito bem estar presente nas aventuras da metade da carreira do Radiohead enquanto Shimmer consegue tanger o som do Oasis mas de uma forma menos épica e mais viajante. Como esperado em um banda que tem “viagem” em seu nome, faixas como Tin Foil Skin e Catherine, I Feel Sick capturam muito bem o momento que vivenciamos em relação a música Psicodélica.

Talvez uma forma contemporânea de escapismo esteja presente neste movimento que procura transformar o som em uma experiência temporal ao voltarmos a décadas em que os objetivos daqueles que tinham suas bandas eram muito maiores do que simplesmente ter sucesso na vida. No entanto, o som pode não parecer tão inovador assim e ser considerado um belo apanhado de outros grupos mas realizado de forma distinta. Love Me Sinister parece meio comum de mais enquanto Under a Gelatine Mooné um simples mas divertido exercício de reverb e distorções.

Tais constações não deixam, entretanto, que o disco divirta ou agrade quem estava procurando um pouco mais de Britpop na música contemporânea. Simplesmente divagar sobre influências como se estas fossem prejudiciais no som proposto seria ser mesquinho ou conservador demais. Para um primeiro disco, o Tripwires consegue criar um som extremamente compreensível logo de cara ao mesmo tempo tenta fugir da objetividade com um som psicodélico. Inesperadamente, tal mistura funciona muito bem e eu pessoalmente, já coloquei o disco em repeat umas 5 vezes hoje. Não deixe de ouvir enquanto não podemos escutar nada novo do Radiohead.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.