Ouvir Don Domestique é quase como ser transportado de volta para os anos 90, é como voltar para uma distante época em que “tagear” bandas como Indie Rock ainda fazia algum sentido (no que diz respeito ao gênero realmente ser atribuído a grupos independentes das gravadoras). Para dar vazão à sua música, o quarteto nova-iorquino Bear Ceuse se apega a tendências de grandes bandas da época como Pavement, Pixies, Dinosaur Jr., Superchunk, Neutral Milk Hotel, Yo La Tengo e tantas outras que impulsionaram o estilo no começo daquela década. Esse é um verdadeiro convite a uma incrível viagem para está fervilhante época dominada por produções caseiras, guitarras ríspidas, muita barulheira e uma deliciosa crueza sonora.
Indo muito além do que soar como um simples pastiche ou copia, Cameron Matthews e sua turma parecem ter aprendido com todo o experimentalismo da época para conseguir criar esse disco usando os ensinamentos noventistas, mas também dando sua própria cara a tudo o que referenciam. Em uma comparação meio absurda: Bear Ceuse faz com os anos 90 o que Foxygen fez com os 60 em seu mais recente disco We Are The 21st Century Ambassadors Of Peace & Magic – não da mesma forma, é claro, mas a ideia de se apropriar de um estilo dominante em um período e o reinventar é basicamente o que faz destas obras tão interessantes.
Assim como as obras do período, o disco é dominado por guitarras altas e distorcidas (All Out Of My Hat), o ritmo dançante do Indie Rock (Dixie Brothers) e letras nostálgicas cantadas por uma voz cheia de personalidade (My Friends). Como uma grande colcha de retalhos roqueira, as faixas da banda agrupam diversas referências vintage ao seu som e constroem um disco repleto de dinamismo, mantendo, ainda assim, grande coesão. Elas se conectam, mais do que pela sonoridade em si, pela lírica geralmente cheia de dor e frustração (bem exemplificadas em God’s Looking Down e This or That).
Ainda assim há momentos dispares em Don Domestique. Um deles, I Saw It Beating (faixa que gera uma boa dinâmica entre momentos mais calmos e outros mais agressivos), quebra essa sensação de nostalgia profunda apresentada até então, mas não prejudicando o andamento do álbum. Já o outro, Streets of Something Good, quebra a sequência de boas faixas ao se enveredar para caminhos que fogem do padrão apresentado até então. Ainda que não seja uma música ruim, ela quebra o clima que o disco vinha mantendo até então com seu ritmo de baladinha Pop.
Já se enquadrando como uma das melhores estreias do ano, o quarteto nova-iorquino conseguiu um ótimo resultado em seu primeiro álbum, mostrando inventividade e personalidade ao tratar de sonoridades que foram amplamente exploradas (e isso não só nos anos 90), de forma que ele não soe só como mais uma por aí.