“Este disco é um presente pra você”. É assim que Wado descreve seu sexto disco, Samba 808, na carta ao ouvinte que vem com o download. Com dez faixas caprichadas, o músico alagoano optou por distribuir o álbum gratuitamente na Web, alinhando ainda mais o formato de lançamento ao modo que a música popular brasileira é feita e pensada hoje.
O nome remete ao Roland TR-808, o famoso programador de percussão dos anos 80 que já estrelou gravações de músicos como David Byrne e Marvin Gaye e foi reverenciado por outros tantos, como Kanye West em seu 808s & Heartbreak. Aqui, ele aparece em mais da metade das canções, comandado por Pedro Ivo Euzébio, que também assina a produção.
Seis das dez faixas trazem convidados de diversas vertentes da música tupiniquim de hoje, como Zeca Baleiro (que abre o disco em altíssimo nível), Fernando Anitelli (em Portas São Pra Conter ou Deixar Passar), Fábio Góes (Jornada) e Chico César (Os Surdos das Escolas de Samba), em composições que aproveitam o melhor da interpretação de cada um, sempre combinando muito bem suas vozes à de Wado.
São canções curtas, nenhuma chega aos quatro minutos, com letras que aproveitam bem a tradição lírica/vocal do popular brasileiro, com a musicalidade fluindo facilmente das palavras e versos em melodias bem trabalhadas e bastante acessíveis.
E são justamente as canções mais pop que se destacam no álbum, como Com a Ponta dos Dedos, com participação de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, presente na maior parte das listas de “Melhores de 2011”, Esqueleto, a parceria cheia de energia com Curumin, e Não Para, que traz um sampler do funk de MC Marcinho.
O “Samba” do título entra pelo ritmo e pela brasilidade que o termo carrega por si só, sem que o disco se enquadre no gênero. O que Wado fez foi traçar um panorama do que é feito no país hoje, reunindo tendências/referências/influências do brega ao eletrônico em músicas muito acima da média executadas por uma excelente banda.