Resenhas

The National – Trouble Will Find Me

Grupo norte-americano soa mais calmo e melancólico que em suas três obras anteriores, no entanto, trazem composições ainda mais sinceras de seu líder, emocionando seus ouvintes a cada verso

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Ano: 2013
Selo: 4AD
# Faixas: 13
Estilos: Indie Rock, Post-Punk
Duração: 55:06
Nota: 4.5
Produção: Aaron Dessner & Bryce Dessner

O som do The National pode ser considerado único devido a presença de palco e a voz do líder do grupo, o barítono Matt Berninger. Adjetivo guardado a tenores principalmente, o vocalista trouxe não só um elemento distinto ao Indie Rock mas também letras emotivas e uma orquestração capaz de derreter corações. Mas desde 1999, quando a banda apareceu pela primeira vez, muitas coisas mudaram em relação ao grupo e todas elas foram positivas. Agora, em seu sexto disco, o melódico e triste Trouble Will Find Me, a banda de Ohio parece se estabelecer entre os principais nomes do gênero mas sem perder a sua identidade.

Em pouco mais de 14 anos de carreira, o National criou diversos discos que posteriormente se tornaram clássicos. E, curiosamente, todos foram lançados em uma sequência que se inicou com o intenso Alligator, passando pelo dito “álbum da década” de acordo com alguns críticos (Boxer, de 2007) e chegando até o excelente High Violet de 2010. Todos foram momentos que demonstraram uma clara evolução no som do grupo, orquestrando e produzindo cada vez mais seu som, de certa forma melancólico mas sempre sincero e carregado de sentimentos A carreira do grupo proporcionou o crescimento de uma sólida base de fãs, os quais deverão, em um primeiro momento, talvez estranhar um pouco Trouble Will Find Me.

Todos os elementos que consagram a banda estão aqui, no entanto, mais do que em qualquer outro momento, a tristeza e transpiração de agonias e incertezas parecem se cristalizar na figura de Matt. O nome do disco não vem a toa e os problemas parecem encontrar o líder nas mais diversas formas: fim de relacionamentos, baixa autoestima, necessidades amorosas… Os temas são distintos entre si mas todos ligados no mesmo personagem: Matt. A abertura da obra com I Should Live In Salt, pode parecer menos impactante do que estamos habituados, talvez devido a menor intensidade nos acordes. No entanto, alguns poucos minutos e versos do líder são necessários para constatar que o sentimento estará a flor da pele por todo o disco.”I should live in salt for leaving you behind” é só o primeiro instante de uma beleza melancólica única.

O timbre grave aparece na linda Demons, faixa com um trabalho de composição excelente e uma introdução que simplesmente encontra a tristeza em todas as almas solitárias e sonhadoras do mundo “When I think of you in the city/The sight of you among the sites/I get this sudden sinking feeling Of a man about to fly”. As músicas, entretanto, mostram-se simples em alguns instantes. Riffs e estruturas são repetidas em Fireproof ou I Need My Girl, por exemplo, mas o som do The National continua lá e a voz e letras de Matt entram profundamente nos ouvidos e corações de quem o escuta. Claramente afetado por algum problema pessoal, o músico parece demonstrar este descontentamento com a vida, uma tristeza intrínseca que parece não largá-lo. Frases como “I am under the gun again” ou “I’m trying, but I’m graceless /Don’t have the sunny side to face this” na agitada Graceless mostram que todo o sucesso do grupo parece trazer as trevas cada vez mais perto do vocalista.

Longe de ser um álbum depressivo, Trouble Will Find Me é uma obra que não parece se importar em soar sincera para os fãs do grupo como para os seus próprios membros. Sea of Love mostra que apesar estarmos vulneráveis aos sentimentos alheios (“Will you say you love me Jo? How am I supposed to know?” diz Matt), somos nós mesmos quem podemos causar os problemas em um relacionamento “Hey Jo sorry I hurt you, but they say love is a virtue don’t they?”. Como uma bola de neve, sugando tudo o que vem a seguir em um desmoronamento, o líder afasta os outros que se importam com ele. Na calma e sentimental Heavenfaced, conduzida no piano e oscilando entre alguns pequenos acordes em tempos distintos, Matt pede, quase que sussurando : “Let’s go wait out in the fields with the ones we love”. Ele parece quase implorar por amor, mas não tem forças para realizá-lo ou simplesmente encontrá-lo.

Se a distorção e a raiva não estão presentes no disco, a intensidade pode vir de outras formas, transparecendo em Slipped. “I don’t need any help to be breakable, believe me/I won’t need any help to be lonely when you leave me” pode ser considerado um dos versos mais emotivos da carreira do grupo enquanto o auge da obra, Pink Rabbits, traz a melhor combinação entre orquestração e letra. Com uma linha de piano maravilhosa, a faixa combina a voz e as batidas da bateria em um perfeito equilíbrio. Os versos são libertadores, e nele a capacidade de Matt não está só no poder de suas palavras mas também na forma como as histórias são contadas. Na canção, somos jogados ao momento em que o vocalista supera o seu amor: “I was solid gold I was in the fight I was coming back from what seemed like a ruin”, mas depois o reencontra, e surpreendentemente ela quer voltar: “I’m so surprised you want to dance with me now /I was just getting used to living life without you around”. E como qualquer “recaída”, ela não termina bem : “You didn’t see me I was falling apart/ I was a television version of a person with a broken heart”. Interpretação e história são verossímeis, e com certeza farão você se emocionar.

Bandas quando se tornam grandes, devido a uma base sólida de fãs ou uma discografia interessante, tem liberdade de criar cada obra de acordo com o momento vívido. The National, não tenta ser mainstream em seu sexto disco, mas inevitavelmente o faz em um disco menos distorcido e mais orgânico. Nele, o sentimento e as letras transparecem um momento conturbado da vida de Matt, e o mesmo se encaixa muito bem na carreira do grupo, soando único mas ainda correlacionado com a história da banda. Daqui alguns anos poderemos ver Trouble Will Find Me como mais um disco clássico do grupo? Talvez mas com certeza será visto como o mais sincero, melancólico e calmo de Matt Berninger e companhia.

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BOM PARA QUEM OUVE: Local Natives, Sufjan Stevens, Interpol
ARTISTA: The National
MARCADORES: Indie Rock, Ouça, Post-Punk

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.