Resenhas

Dorgas – Dorgas

A experimentação e o timbres suingados dos cariocas surpreendem pela inovação do começo ao fim em um trabalho coeso e que não se limita

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Ano: 2013
Selo: Vice
# Faixas: 9
Estilos: Experimental, Chillwave, Psicodelia
Duração: 38:00
Nota: 4.0
Produção: Gabriel Cyr
SoundCloud: /tracks/92199740

Os garotos do Dorgas poderiam ser um alvo fácil da crítica musical se fossem apenas mais uma banda de moleques que só está afim de tirar um sarro. O fato é que eles estão, sim, afim de fazer seus gracejos, mas mostram um potencial musical que transpõe o bom humor e surpreende pelo manancial de influências que vem se expondo desde o lançamento de seu EP Verdeja, em 2010.

Intitulando-se ironicamente como os “Sophistipunks do mundo novo” e dizendo ao público que seu disco de estreia pode ser chamado “como for do gosto de quem ouve” é que Gabriel Guerra, Cassius Augusto, Eduardo Verdeja e Lucas Freire dão um bom pontapé e firmam de vez seu lugar entre o Lado B de bandas cariocas. A experimentação com timbres tropicais vista nos singles Grangongon e Loxhanxha, de 2011, segue frequente no primeiro álbum: uma Chillwave tupiniquim é instaurada do começo ao fim – guitarras suingadas sugerem viagens psicodélicas e se mesclam a traços rápidos de brasilidade. A associação a ritmos típicos é pontual e pode ser percebidas em dados momentos em faixas como Faisão Douradoe Bósforo. A pesar de contar com tais elementos, as criações se mostram como uma versão nada genérica e inovadora.

Cassius desta vez traz vocais mais amplos em momentos como Vice-Homem, Vander e Viratouro, mas o grupo definitivamente não usa a voz como seu maior destaque, nem se apoia em líricas repletas de significado e que tragam um contexto mais profundo. A voz é utilizada como um agregador sonoro na maioria do percurso musical e é aí que a banda aproveita para liberar sua dose de deboche e estravazar na sátira, como em Hortência que traz trechos distópicos sobre um relacionamento com uma mulher mais velha.

Tendo como referência primária o projeto francês St. Germain e passando de Leonard Cohen a Four Tet, quem procura por uma concepção exata ou definições precisas para encaixotar o quarteto em um gênero pode se perder a cada mudança de canção. Do ébrio ao dançante, munido de percussões eletrônicas e acústicas, somando sintetizadores diversos a riffs dedilhados de guitarra, Dorgas renasce na apresentação de cada nova música e ainda assim traz um trabalho redondo dentro de seu próprio senso anti-Pop e que até pode deixar dúvidas sobre qual será seu próximo rumo, mas que não desaponta e passa longe de qualquer traço óbvio.

Dorgas – Viratouro

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Autor:

Jornalista por formação, fotógrafo sazonal e aventureiro no design gráfico.