Resenhas

Karol Conka – Batuk Freak

Rapper curitibana estreia em um disco repleto de excelentes batidas propícias para a vida noturna contemporânea

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Ano: 2013
Selo: Vice
# Faixas: 12
Estilos: Hip Hop
Duração: 39:00
Nota: 3.5
Produção: Nave

A estreia de Karol Conka na música popular brasileira pode ser considerada uma das gratas surpresas vistas neste ano. Construindo um Hip Hop mais popular e voltado para as pistas de dança, a rapper curitibana despeja belas batidas em Batuta Freak, abrindo espaço para uma abordagem musical que consegue atingir um público mais amplo, tanto da periferia quanto do centro.

É óbvio desde o começo o desejo do disco soar bem quando escutado alto, de preferência em locais de entretenimento noturno como bares e baladas. A produção, a cargo de Nave, faz um belo apanhado das tendências atuais da música Pop e as mistura com brasilidades visíveis muito bem-vindas. Espere por batidas tribais, drum machines do Hip Hop e elementos de eletrônico contemporâneo misturados a samples de músicas e instrumentos nacionais.

Corre, Corre Erê, por exemplo, pega um pouco das raízes de percussão do Brasil e as mistura a estruturas vistas em trabalhos da M.I.A. Aliás, a semelhança entre ambas é perceptível até no timbre ou formato do versos da cantora de origem Tamil. No entanto, apesar da similaridade, os elementos tropicais causam uma distinção interessante como os tambores de lata vistos em do Gueto ao Luxo, uma faixa que tem uma quebra de ritmo totalmente inesperada e surpreendente no refrão.

As letras contém algum teor de crítica social/econômica, mas não são o ponto forte do disco, chegando até a ser um pouco banais em alguns momentos, como em Gandaia. A faixa pode ser considerada uma versão feminina de qualquer música que aborde a vida noturna e as interações que o ambiente exige. Sua batida, no entanto, feita a partir de sons de flauta, é realmente viciante. O espaço para baladas fica com Que Delícia, canção que tem uma batida concentrada no teclado elétrico e na guitarra delineada, ambas criando um momento realmente delicioso no disco.

O entrosamento entre Karol e o produtor Nave é visível em todas as canções, com a primeira sempre encaixando o seus versos de acordo com a criatividade imposta pelo segundo. Samples de música regional são transformadas em batidas que fariam Kanye West abrir um sorriso, como em Vô Lá, ou no cavaquinho misturado a House e Hip Hop em Bate a Poeira. Se tivessem um trabalho lírico um pouco mais elaborado, fariam o debut ganhar proporções ainda mais elevadas.

No entanto, o trabalho é concentrado no lado mais comercial do estilo, fugindo do peso e vigor vistos em outros artistas da cena. Uma escolha de direção que se adequa no final às excelentes batidas de Batuk Freak. As participações especiais de Rincon Sapiência em Sandália e Tuty em Olhem-se, trazem outros artistas contribuindo para trazer um pouco mais do Hip Hop original. O primeiro em uma faixa que brinca com Dub e Reggaton, deixando-a totalmente letárgica e viajante com seus instrumentos de sopro gravados. O segundo faz, provavelmente, a faixa mais pesada do disco com batidas em gotas misturadas a um ar cinematográfico pela sua orquestração, elementos que a transformam em quase um blockbuster americano feito em terras nacionais.

Karol finca os pés, ou melhor o salto alto, elemento bem feminino, na música nacional com um disco que deve agradar um público bem diverso. Sua escolha por sons mais Pop se mostra acertada e provavelmente lhe dará muito mais visibilidade daqui pra frente. Não podemos esquecer do trabalho do produtor Nave, que dita o tom em todas as faixas do disco e consegue dar unidade e originalidade ao debut ao criar uma mistura das tendências estrangeiras com a riqueza da música nacional. Bom começo.

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BOM PARA QUEM OUVE: M.I.A, Kanye West, Emicida
ARTISTA: Karol Conká
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.