Resenhas

Fleet Foxes – Helplessness Blues

A banda de Folk consegue ir ainda mais longe em seu segundo álbum, cheio de composições que o colocam como referência na produção crescente que o gênero dos violões possui atualmente em todo o mundo

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Ano: 2011
Selo: Sub Pop, Bella Union
# Faixas: 12
Estilos: Folk, Indie Folk
Duração: 49:57
Nota: 4.5
Produção: Phil Ek e Fleet Foxes
Livraria Cultura: 5100791

Já faz alguns poucos anos que a música Folk vem conquistando cada vez mais espaço no cenário musical, resgatando tradições da música popular com instrumentos, versos e interpretações vocais que acabam por tornar os sons uma vez próprios de culturas distintas em um só estilo tocado mundialmente.

Prova disso é Helplessness Blues, segundo disco da norte-americana Fleet Foxes. Com os violões em evidência, a banda constrói um álbum que passeia por sonoridades diferentes sem que o ouvinte se sinta jogado de um lado para o outro. Pelo contrário, as melodias são todas muito coesas. Ainda assim, o fator plural ao longo das faixas ajuda para que a experiência de ouvir da primeira à última não seja, em momento algum, monótona.

Montezuma abre o disco como um prólogo com o que está por vir, com a letra existencialista e o coro que acompanha o vocal de Robin Pecknold. Em seguida, Bedouin Dress começa a revelar a alma do álbum, com um viciante violino entoando uma melodia que poderia ter nascido tanto na Irlanda, quanto na Turquia. Sim Sala Bim surge como um conto oriental difundido no Ocidente, enquanto Battery Kinzie narra uma história que remete ao Romantismo do século 19 e ao Expressionismo do século seguinte.

Não é qualquer banda que daria conta de administrar tantas características diferentes em um só trabalho, mas os membros da Fleet Foxes tiveram bastante tempo para planejar tudo. Depois do disco homônimo (2008), os músicos já queriam preparar algo novo para 2009, mas as turnês e ensaios atrasaram o lançamento em dois anos. Para manter o caráter mais orgânico do folk, todos os vocais foram gravados em um só take, como se fosse uma apresentação ao vivo.

Após a faixa The Plains/Bitter Dancer (que começa grave, um pouco sombria, e termina como um cântico otimista), Helplessness Blues nos mostra por que esse é o título da obra. Ela soa tradicional, como um hino de igreja, e explode com o melhor do Country em seu refrão, com a harmonia entre as vozes e a dos violões com o piano.

Depois dela, a sequência com a instrumental The Cascades, a doce (e linda) Lorelai e a melancólica Someone You’d Admire revela o domínio da banda sobre o gênero, com três composições em ritmos e detalhes característicos. Tudo isso antecede a grandiosa The Shrine/An Argument, dona de um dos videoclipes mais bonitos de 2011. Ela começa só no violão, com um vocal que vai da doçura melódica ao grito lamentoso. A segunda parte se revela mais forte instrumentalmente, passeando por diversos momentos e timbres – tão rica, que a música parece se renovar a cada audição.

Antes do fim do disco, a gente respira com a beleza voz-e-violão de Blue Spotted Tail para o grande encerramento em Grown Ocean. Essa é a canção que mais carrega a sensação do “ao vivo”, com os graves mais aparentes e os ecos em evidência. É mais uma grande música Folk como manda o protocolo, com versos que pintam cenas visuais sobre vida e o seu sentido, instrumental rico e o coro no encerramento.

É interessante como a globalização nas últimas décadas resgatou justamente um dos gêneros mais tradicionais da música. Helplessness Blues fica como um dos grandes exemplos do nível de qualidade que nosso tempo atingiu ao trabalhar hoje com os estilos do passado – classificando o Folk como o mais eterno dos gêneros.

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BOM PARA QUEM OUVE: Bowerbirds, First Aid Kit, Bon Iver
ARTISTA: Fleet Foxes
MARCADORES: Folk, Indie Folk, Ouça

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.