Resenhas

Woodkid – The Golden Age

Veja a estreia grandiosa do músico francês marcada por um Folk mais moderno, cheio de teatralidade e orquestrações

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Ano: 2013
Selo: Green United Music
# Faixas: 14
Estilos: Neofolk, Experimental
Duração: 48:34
Nota: 3.5
Produção: Yoann Lemoine

Talvez você conheça Woodkid pelo EP Iron, lançado em 2011, mas muito provavelmente você saiba quem ele é por outros meios. O francês, produtor e diretor de videoclipes, Yoann Lemoine é, na verdade, o nome por trás de vídeos como Teenage Dream da Katy Perry ou a megaprodução de Born to Die da linda Lana Del Rey. Portanto, dificillmente você já não tenha tido algum contato com o seu trabalho artístico, de forma direta ou indireta. Entretanto estamos aqui para falar do aguardado debut do cantor Lemoine, The Golden Age, um disco interessante e grandioso.

A voz de Yoann é, de cara, surpreendente e emotiva. Um timbre grosso que lembra muito Antony Hegarty, líder de grupos como Antony and the Johnsons e Hercules and Love Affair. A tristeza é transmitida de forma intensa, e a sensação é que estamos constantemente vendo um passado que nunca mais voltar, uma melancolia plena. É por isso que a obra se chama The Golden Age e a faixa-título inicia toda a viagem. O disco todo tem a estrutura do Folk moderno, que procura contar histórias através de sua voz, mas sem usar excessivamente o violão. Conduzida no piano, introduz a voz cortante de Yoann acompanhada por uma orquestração em cordas, deixando tudo mais bonita enquanto escutamos “but the Golden Age is over*. Da metade pra frente, uma bateria militar deixa tudo mais teatral e emocionante, e chegamos à conclusão de que eventualmente temos que nos desligar de lembranças e seguir em frente.

Run Boy Run já é conhecida e tem um dos melhores clipes feitos no passado, um estilo meio Onde Vivem os Monstros, igualmente cinematográfico. The Great Escape emociona mais uma vez com sua linda introdução nos violinos e uma batida que lembra uma corrida de cavalos. Estamos realmente em um grande fuga, épica, com instrumentos de sopro chamando os cavaleiros. Vale ressaltar aqui o refrão, uma quebra de ritmo na bateria que imita o cavalgar dos animais. Até aí, estamos já convencidos de que um álbum grandioso vêm por aí, mas tal fato é necessariamente bom?

Toda a produção do restante da obra segue o mesmo esquema: orquestrações, teatralidade e uma mania de grandeza. Todos os cuidados são feitos para que você fique de boca aberta, e isso ocorre em momentos como passagem entre o refrão e o verso em Boat Song ou no orgão que acompanha a batida de I Love You, pedindo palmas em um possível show. No entanto, da metade pra frente vemos que Yoann não consegue fugir de suas próprias estruturas e do que ele quer mostrar: tudo tem que ser lindo e sua voz triste não ajuda a transmissão de outros sentimentos além da melancolia. Tal fato acaba se tornando recorrente, repetitivo e logo chato.

O disco se torna denso, íntimo na medida certa. No entanto, não conseguimos deixar de bocejar um pouco com a semelhança entre faixas como Where I Live e Stabat Mater com outras vistas no início da obra. Toda esta grandiosidade parece não fazer sentido ao final, é vazia e talvez, falsa, “bem produzida”. O melhor momento fica por conta de Conquest of Spaces que, apesar de seguir a mesma batida militar vista em outras três faixas, introduz um teclado psicodélico e circular que confunde mas agrada o ouvinte.

Vemos qualidade únicas em Woodkid como a sua capacidade produtiva, uma voz fora do comum, linda e que transmite muita teatralidade. No entanto, o desejo de grandeza se torna repetitivo em sua estrutura musical assim como todo o sentimento que procurava ser passado ao longo da obra. A melancolia se torna blasé e catorze faixas mostram-se muito para o disco como um todo. Uma pena, pois muita coisa boa pode ser extraída, mesmo assim, de The Golden Age.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.