Resenhas

Sound City – Reel To Real

Uma seleção de artistas renomados celebra o elemento humano da música nesta trilha-sonora para o filme de Dave Grohl

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Ano: 2013
Selo: RCA
# Faixas: 11
Estilos: Rock
Duração: 56:00
Nota: 4.0
Produção: Dave Grohl

Trilhas sonoras são normalmente feitas para acompanhar um filme e, quando bem feitas, conseguem manter o espírito da película mesmo quando dissociadas. Sound City poderia muito bem ser uma Big Band do tamanho de um time de futebol. Que tal uma substituição? Joshua Homme por Steve Nicks? Paul McCartney por Dave Grohl? Qualquer que seja a sua opção, estamos diante de um time estrelado em Reel to Real.

O filme é uma ode ao método analógico de gravação. Comum nas décadas de 1960 e 1970, foi reutilizado no processo de composição das músicas da trilha. Um fator que deve ser levado em consideração na abordagem desta obra é que a mesma não pode ser chamada propriamente de um álbum. Não existe uma abordagem comum ao longo de sua duração, somente a utilização dos mesmos recursos por todos os artistas e a presença de David Grohl em todas as faixas. Logo, Reel to Real é mais uma bela coletânea do que propriamente um “disco”.

O líder do Foo Fighters, verdadeiro Rock Star de uma era em que estrelas parecem sumir aos poucos, aparenta se divertir imensamente ao longo de toda a composição da trilha para o seu filme-documentário. A sensação é que Dave reuniu um bando de amigos em um fim-de-semana e resolveu gravar algumas músicas por diversão. Existe um certo peso, atrelado propriamente ao passado de Dave e seus grupos, mas também uma celebração ao Rock norte-americano. O padrão introdução-verso-refrão-verso-bridge se repete por praticamente todas as músicas e o time estrelado, trocado a cada faixa, acaba inibindo um certo enjoo por este vício na padronização.

Faixas como Can’t Fix It com Steve Nicks, cantora do excelente Fleetwood Mac, aparecem como grandes surpresas, mostrando uma verdadeira celebração à antiga banda, que utilizou muito as mesas de gravação presentes em Sound City. Balada romântica, traz um enorme virtuosismo na guitarra de Dave que ecoa os mais belos riffs do Fleetwood Mac. The Man That Never Was com a presença do cantor Rick Springfield assusta pela semelhança entre as vozes deste com Dave. Talvez demonstre uma certa inspiração entre as gerações e lembra alguns momentos do Foo Fighters, mostrando-se mais uma excelente música.

The Wife Is Coming é um Punk Rock classudo que lembra os primeiros momentos do Queens of The Stone Age. Nos vocais, Lee Ving, da banda Fear, canta rapidamente versos diretos e com poucas palavras. No meio, uma gaita acaba dando o toque a mais necessário. From Can’t to Can’t tem Corey Taylor do Slipknot e Stone Sour nos vocais. Lembrando mais o seu segundo grupo que o primeiro, tem uma guitarra dedilhada característica de Dave, um recurso que o mesmo utiliza constantemente para dar um toque épico a suas músicas. Ninguém melhor que Corey para transpor este sentimento.

Alguns ótimos momentos tem como um dos “selecionados” Joshua Homme, do Queens of The Stone Age. Primeiro, na excelente Centipede, música acústica com acompanhamentos no violão incríveis. A voz de Joshua dá um toque “desértico” a faixa, transformando-a em uma composição árida, seca e que vai crescendo assim como a poeira do deserto até que um momento explode e os instrumentos são ligados na tomada. Para você que está morrendo de curiosidade pelas novas faixas do novo disco, Centipede serve como um belo tira-gosto. Depois, o mesmo divide as funções da banda com Dave e Trent Reznor, parceria que irá se repetir no seu esperado novo álbum. Em Mantra, no entanto, os vocais ficam a cargo de Dave e Trent, realizando um ótimo dueto. O que impressiona nesta produção, cheia de elementos eletrônicos dado o histórico de Reznor, é que ela foi toda gravada em mesas analógicas. Talvez seja a melhor faixa desta coletânea.

Na verdade não, a melhor canção de Reel to Real fica a cargo da escalação: Paul McCartney, Dave Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear. Ou seja, um Beatle, 2/3 do Nirvana e um guitarrista coringa que já participou do acústico do grupo Grunge e que hoje faz parte do Foo Fighters. Cut Me Some Slack é pesada e tem uma estrutura que lembra um pouco algumas faixas do Danzig. Paul canta como nos melhores momentos de Helter Skelter, enquanto a bateria de Dave explode seus pratos, Krist faz linhas de baixo como nunca fez no Nirvana e Pat ganha a notoriedade na guitarra que sempre desejou. É a música que faz o projeto fazer todo o sentido.

Um apanhado de ótimas músicas, mas que podem ser tranquilamente escutadas de forma avulsa, fazem de Reel to Real a grande trilha-sonora de 2013. E mostram que Dave Grohl continua se esforçando para ser o “cara” da música atualmente, ocupando o papel de “verdadeira estrela”. Para quem ainda não viu o filme, como este que vos escreve, a trilha só trará ainda mais curiosidade para que se possa conhecer de forma mais aprofundada um estúdio que fez parte direta da história da música contemporânea.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.