Resenhas

Keaton Henson – Birthdays

Segundo álbum do britânico explora sons mais pesados e mantém a sinceridade lírica, certamente seu melhor atributo

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Ano: 2013
Selo: Independente
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Folk, Folk
Duração: 42:05
Nota: 3.5
Produção: Joe Chicarelli

Dear, o álbum de estreia de Keaton Henson, trazia uma aura intimista e profundamente melancólica nas composições dolorosamente sinceras acompanhadas pelo dedilhar das guitarras elétricas desse músico britânico. Permeadas por sons de passarinhos ou do balançar da rede, as músicas vinham com uma estética muito particular e uma pessoalidade mais do que notável.

O anúncio de Birthdays já demonstrava um novo contexto. O tímido e arisco Henson cruzou o Atlântico, enfrentando seu medo de aviões, para se encontrar com o produtor Joe Chicarelli (o mesmo de The White Stripes, The Strokes e The Shins, para citar algum) em Los Angeles a convite do próprio e os dois conceberam juntos o disco.

A dúvida que ficou foi: Será que os melhores atributos do som do músico seriam bem aproveitados em um novo ambiente, inseridos em outra dinâmica?

No meio tempo entre os dois lançamentos, o EP Sweetheart, What Have You Done to Us surpreendeu e preocupou ao mesmo tempo. De suas três músicas, duas delas estão no álbum (sua faixa-título e Kronos), justamente as que mais destoam do som de Dear, embora Keaton ainda cante do jeito que o público aprovou em sua estreia. Ainda assim, por mais que tenha instigado a curiosidade, os ouvintes ficaram com o pé atrás com o que poderia vir em Birthdays.

Logo em uma primeira audição, são duas as coisas que chamam a atenção no álbum: O quanto ele se parece com o primeiro e como as músicas mais diferentes estão todas inseridas no momento certo. É um daqueles álbuns com prólogo, epílogo e uma progressão sonora que força o ouvinte a ouvi-lo sempre na ordem. As faixas são sólidas o suficiente e funcionam sozinhas, na maior parte delas, mas seu contexto as deixam melhores ainda.

Teach Me faz as vezes da introdução no maior estilo Keaton Henson: Voz chorosa, guitarra dedilhada e versos tristes que acompanham a melodia agridoce. Bonita, mas nem tanto quanto a seguinte, 10 AM, Gare du Nord. É quando começamos a segurar o choro prestes a receber um daqueles golpes líricos confessionais com os quais tentamos nos identificar, como em “please do not hurt me love i’m a fragile one and you are the white in my eyes, please do not break my heart i think it’s had enough pain to last the rest of my life”.

Isso continua em You, agora com cordas enquanto ele desabafa “if you must die, sweetheart, die knowing your life was my life’s best part”. É aquele exagero cantado que se faz irresistível ao coração, misturando lembranças de nossos próprios romances diluídos com impulsos de ir até onde quer que o músico esteja para lhe dar um abraço e dizer que essa dor toda vai passar.

Lying to You continua a narrativa ao falar com aquela sinceridade sobre um relacionamento “de passagem” no qual se encontra porque a mulher a quem ama não está com ele (“cause I found her and now she is gone”). É o ponto de mudança que o álbum toma em seu caminho, assim como o tal relacionamento “de reserva” costuma renovar as perspectivas de quem se arrisca nele.

The Best Today é uma canção esperançosa, quase um devaneio de tão lúdica e com a ajuda de baixo e bateria, uma novidade até então. Ela conta se apaixonar por alguém no trem e querer estar ao lado dela quando ela acordar para dizer “you look the best today”. É a projeção típica de quem ignora a própria dor e, ao invés de tratá-la devidamente, se aventura em outras ideias, sem perceber que o trauma, quando vem, retorna com uma intensidade muito maior.

É aí que entra Don’t Swim, estreando o lado B do disco e unindo de vez a ponte entre o som já conhecido no primeiro álbum e o esperado após o EP. Com uma surpreendente explosão lá pela metade do terceiro minuto, o instrumental carregado situa a já conhecida Kronos sonoramente. Se em Sweetheart.. ela parecia jogada em meio às músicas mais lentas, aqui ela surge fazendo dupla com a anterior e demonstrando toda a força da dor que antes tentava ser disfarçada.

“This has been the best of me, I hope you end up missing me and I hold on to that”, ele explode no refrão com tom de quem finalmente coloca um ponto final na história com a ex e verbaliza aquilo que sempre pensou, sem se importar em parecer adolescentizado ou egoísta. Ele acalma os ânimos com Beekeper, um momento acaipirado com banjo e teclado no que poderia ser um lado B de algum single de Mumford & Sons (mas sem o vocal potente de Marcus Mumford e com a dor latente de Keaton Henson no lugar).

Depois de tudo isso, a faixa Sweetheart, What Have You Done to Us surge como um inesperado clímax para a narrativa. É ali onde ela está que todo o instrumental de sua segunda metade faz mais sentido, ao mesmo tempo em que o começo em voz e guitarra remete ao início do álbum. É uma música conclusiva, mais sóbria que as anteriores, mas sem deixar de perder a emoção (“I think you may have broken me, will you admit?”, “follow my words to the end of our love”).

In the Morning fecha a história apresentando ainda mais uma novidade na discografia do músico: a combinação entre voz e piano. Ou seja, ao mesmo tempo que encerra essa trajetória, parece apontar para algo novo.

É depois de pensar todas essas coisas que o título Birthdays faz mais sentido. Aniversários são datas que marcam mudanças, ou pontos específicos, monumentos, em um ciclo maior de eventos – isso sem contar o constrangimento que é ser parabenizado por todos e ter que suprir a expectativa de festejar a conquista da idade. Recordações de aniversários podem parecer lembranças de relacionamentos doloridos, datas especiais mesmo em épocas turbulentas registradas por trás do filtro da memória afetiva.

O dom de Keaton Henson é cantar a pior das sensações com uma honestidade quase agressiva, mas sempre sensível. Birthdays parece ter sido feito com uma consciência maior do tamanho do público, algo que Dear ingenuamente não tinha e, por isso, conseguiu ser ainda melhor que este novo. Porém, enquanto sua arte se concentrar em transformar em beleza sinceridades tão amargas, valerá a pena ouvir sua música com todos os sentidos e sensibilidades.

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BOM PARA QUEM OUVE: Tiago Iorc, The xx, Bon Iver
ARTISTA: Keaton Henson

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.