Resenhas

Jamie Lidell- Jamie Lidell

Decepcionante e repetitivo, novo disco do cantor carece de uma melhor produção e perde-se em seus próprios vícios

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Ano: 2013
Selo: Warp
# Faixas: 11
Estilos: Eletrônica, Soul Pop
Duração: 48:00
Nota: 2.5
Produção: Jamie Lidell

Bandas de um “homem só” costumam transparecer uma dualidade díficil de ser transposta. Ou são geniais por si só, criativas, ou acabam entrando em um mundo repleto de boas idéias, mas repetidas, cansativas. Jamie Lidell já mostrou em outros momentos estar mais voltado para o lado positivo da vida solitária nos palcos e gravações. No entanto, em seu autointitulado álbum, Jamie Lidell, acaba soando, ironicamente, repetitivo.

Talentosíssimo ao vivo, criando as suas canções de forma crível diante de uma grande plateia, o cantor tem uma estável carreira solo há mais de 15 anos. Chega a ser assustadora a descartabilidade de sua obra, reciclável assim como uma garrafa PET. Não que tudo escutado seja um desperdício. A bela voz de Jamie continua dando poder às suas composições. Toques levemente funkeados criam uma atmosfera sexy, mas uma audição mais apurada da obra acabará encontrando alguns vícios de linguagem que com o passar do tempo se tornam insustentáveis. Sintetizadores analógicos compõem bateria, baixo e adereços, no entanto, os mesmos acabam parados no tempo, mais precisamente na década de 1980, um período que não parece ser muito bem lembrado pelas suas composições sintéticas.

Canções como I’m Selfish e Big Love abusam das baterias eletrônicas e batidas pouco criativas, o que ao final acaba descartando todo o poder da voz de Lidell. Misturadas, transformam-se em uma coquetel doce, enjoativo e que certamente resultará em ressaca. Baixos sintéticos fazem essa viagem no tempo ser ainda mais inebriante, You Know My Name e So Cold por exemplo, são experiências quase traumáticas, e únicas, em sua audição.

As coisas não se perdem quando a voz de Lidell diminui um pouco efeitos, como autotune ou compressores, e a deixam interagir de forma mais natural com algumas músicas. What A Shame e You Naked são singles salvadores que não deixam o disco chegar em um patamar mais baixo. É compreensível, sob a perspectiva de Lidell, prender-se a estruturas que considerava corretas. No entanto, a falta de uma produção externa, um olhar crítico isento de interpretações pessoais acabou se mostrando o calcanhar de Aquiles deste novo álbum.

É fácil imaginar o cantor incorporando outros estilos, ou produções a uma voz que lembra em muitos momentos a de Cee Lo Green. Se este camaleão ganhou notoriedade por justamente se envolver em projetos mais ousados como Gnarls Barkley, ou a própria carreira solo, Lidell poderia fazer o mesmo e alcançar obras mais interessantes. Parcerias se mostram necessárias para que este talentoso músico e cantor não caia em um deslize sem volta.

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BOM PARA QUEM OUVE: Gnarls Barkley, Chromeo, Cee Lo Green
ARTISTA: Jamie Lidell
MARCADORES: Eletrônica, Soul Pop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.