Resenhas

Iceage – You’re Nothing

Quarteto dinamarquês cria um segundo registro que supera sua seminal estreia em muitos aspectos, o potencial lirico é um deles

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Ano: 2013
Selo: Matador Records
# Faixas: 12
Estilos: Punk Rock, Post-Punk
Duração: 28:26
Nota: 4.0

Em seu segundo disco, o quarteto dinamarquês Iceage revela ao mundo não ser mais aquele bando de moleques desordeiros e barulhentos que era em seu álbum de estreia New Brigade (2011).You’re Nothing se mostra mais maduro liricamente, alcançando uma profundidade muito maior que a de seu antecessor. E isso é explicado pelo vocalista Elias Bender Rønnenfelt, que, em uma entrevista dada após as gravações, explicou a obra como: “Bateria rápida e guitarras barulhentas são apenas a moldura, e não a foto, e, desta vez, nós tentamos escrever de uma forma que não fosse impenetrável”.

E logo de cara você vai perceber esse cuidado extra com as letras. Onde havia somente brutalidade sonora, agora há também letristas mais focados e sentimentos a flor da pele. Aliado a isso, os berros de Elias conseguem transportar com maestria toda densidade, angústia, tensão e confusão das letras para as canções.

Ainda assim, a urgência, aspereza e aquela sensação de soco na boca do estômago continuam presentes em peso por aqui. O Punk, Hardcore e também o Post-Punk conduzem grande parte das faixas, em algumas ganhando doses extras de brutalidade, como na pedrada de pouco mais de um minutoIt Might Hit First, e em outras ganhando toques refinados ao som do piano, como em Morals. No geral, a produção ganha maior requinte em You’re Nothing, mesmo que ainda soe tão abrupto e agressivo.

Alcançado um bom dinamismo, a banda compila doze faixas em menos de meia hora de disco – muitas delas mal passando da marca dos 2 minutos – e atinge também uma boa variedade sonora, ainda mais se tratando do Punk e de suas limitações. A frenética e borrada Ecstasy abre o disco como se mostrasse os efeitos do uso da droga; na sequência, Coalition abusa do noise das guitarras e cria um dos melhores momentos do disco. Interlude por sua vez, brinca com um clima soturno, se aproximando do Drone e usando ruídos para criar a aura obscura da faixa que é acompanhada por uma percussão de banda marcial.

In Haze cria uma dicotomia interessante com Morals, enquanto a primeira busca inspiração direta nos primórdios do Punk e traz toda a crueza do estilo, a segunda tem um quê sofisticado, em uma balada melancólica levada ao piano. Rodfæstet, quase ao fim do álbum, é a única canção da carreira dos garotos que é cantada em sua língua natal, sonoramente ela mantém a proximidade com as faixas aceleradas e potentes de New Brigade. Awake mostra uma versão suja do Post-Punk, com suas ferozes linhas de baixo e guitarras angulares e dissonantes que cortam a música constantemente. A faixa-título encerra o disco em um mar de guitarras distorcidas e melódicas (apesar do aparente barulho), no que pode lembrar os primeiros anos do Dinosaur Jr.

Sonoramente mais interessante que seu antecessor, You’re Nothing é um passo e tanto dado pelos punks dinamarqueses, que desta vez estão sendo reconhecidos por sua música propriamente dita e não pela “seita” que criou em seu país.

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ARTISTA: Iceage

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts