Resenhas

Shugo Tokumaru – In Focus?

Conheça um pouco mais sobre a cultura japonesa ao escutar o trabalho desse talentosíssimo músico em um trabalho com referências à música brasileira

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Ano: 2013
Selo: Polyvinyl
# Faixas: 15
Estilos: J-Pop
Duração: 44:00
Nota: 3.5
Produção: Shugo Tokumaru

J-Pop, ou Japanese Pop, é um dos gêneros mais populares da terra do Sol nascente. Abstrato e muitas vezes incompreensível para aqueles que não estão acostumados com a cultura japonesa, o estilo pode, no entanto, demonstrar o verdadeiro papel da música: ser uma linguagem universal. Quando escutamos Shugo Tokumaru, multi-instrumentista nipônico, pouco compreendemos o significado de suas palavras. Ele pode estar recitando um dos mais belos poemas ou descrevendo uma situação nojenta que estaremos somente entendendo a melodia – e isso é, muitas vezes, extremamente benéfico. Em seu novo disco, In Focus?, o músico japonês cria um apanhado de estilos e referências à cultura do Japão.

Para aqueles que cresceram vendo desenhos japoneses na televisão como, Dragon Ball (Z), Cavaleiros do Zodiáco, Shurato e Pokémon, ou jogaram muito videgoame, verão que as músicas compostas por Shugo poderiam muito bem estar nestas respectivas trilhas-sonoras. Canções bucólicas, como Circle e Tightrope, em contrapartida, acabam emanando figuras da paisagem nipônica e trazem a paz vista nos milhares de templos budistas espalhados pelo país.

Se você for mais velho e se lembrar de um seriado em stop motion chamado Pingu, sobre um pingum e sua comunidade, irá se identificar logo de cara com Katachi. Canção com dezenas de instrumentos, uma marca de Shugo, é feliz e traz um sorriso ao rosto dos mais nostálgicos. Gamma é música de fase de videogame, mais Mario do que Sonic devido ao seu ritmo menos frenético e poderia constar na trilha de algum game da Nintendo, envolvendo o encanador bigodudo. Mubyo poderia estar em alguma cidade visitada no jogo The Legend Of Zelda, jocosa e quase ambiente, a canção é interessante apesar de curta.

Ser uma one-man-band, como Shugo é, se mostra louvável ao nos depararmos com as diversas criações feitas. Seguindo o seu diário de sonhos, o compositor cria a melodia em sua cabeça e depois tenta adaptá-la liricamente ao que ele havia sonhado. Se não bastasse isso, todos os instrumentos são gravados por ele, um trabalho descomunal mas extremamente preciso. Poker é a demonstração de sua capacidade, mostrando-se a melhor música do álbum, com instrumentos de corda poucos usuais, efeitos em loop e uma melodia pegajosa. Não importa o que ele esteja falando, podemos sentir o sentimento passado.

Ord Gate é divertida, e tem na guitarra japonesa a sua maior virtude. Imagens de templos budistas, nas encostas de montanhas e caminhos cheios de bambu passam rapidamente a cabeça em pouco mais de três minutos. Helictite tem claras influências de Bossa Nova, mas misturado à viola caipira vista na música brasileira. Um xilofone ao fundo dá um toque sonhador e acaba se misturando a uma percussão com claras influências, mais uma vez, na música brazuca. Micro Guitar Music traz um cavaquinho, deixando novamente o apreço dos japoneses ao Brasil. Viagens a parte, a música lembra muito as canções instrumentais vistas na carreira dos Novos Baianos.

Como um recente conhecedor do Japão, estive no país no último mês de Dezembro, posso afirmar que Shugo, apesar de abstrato em um primeiro momento, é extremamente compreensível para aqueles que apreciam a cultura nipônica, ou a música em geral. Divertido como Pop deve ser, mas ao mesmo tempo criativo, sem cair nos lugares comuns, In Focus? é um ótimo disco para quem quer viajar para outro país com os seus fones de ouvido.

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MARCADORES: J-Pop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.