Resenhas

Local Natives – Hummingbird

Amadurecimento rápido, e composições ainda mais belas denotam o segundo disco do grupo que irá conquistar o seu coração (novamente)

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Ano: 2013
Selo: Frenchkiss/Infectious
# Faixas: 11
Estilos: Folk, Indie Rock
Duração: 44:00
Nota: 4.5
Produção: Aaron Dessner

Eu escutei poucos debuts na minha vida como Gorilla Manor de 2010 do Local Natives. Algo me capturava em suas músicas, talvez o seu seu espírito jovem, as referências a outras bandas que eu escutava no momento, como Grizzy Bear e Fleet Foxes, ou talvez simplesmente pela beleza e harmonia vista em arranjos ternos, elaborados e melódicos. Ainda me pergunto o porquê desse amor á primeira vista, mas ele existiu. Escutar Hummingbird, segundo disco do grupo após quase três anos, é como encontrar aquele amigo(a), irmão(a), amor que retornou de um exílio no exterior. Algo mudou.

É normal esperar mudanças depois de tanto tempo. Talvez aquele humor inocente não exista mais, o êxtase tenha se tornado comodidade e a jovialidade acabara se perdendo em tantas experiências inéditas. No entanto, é a mesma pessoa, é o mesmo grupo que constumava te acompanhar nos momentos mais necessários, só está mais maturo, sábio. É isto que podemos ver neste disco, um trabalho corajoso dos músicos. Digo isso como contraposição aos paradoxos e clichês que um artista enfrenta quando está prestes a compor o seu segundo trabalho. Muitos tem medo de se arriscar e acabam se tornando réplicas de um momento fortuno.

Talvez a morte da mãe do vocalista Kelcey Ayer nesse hiato, a saída devastadora do baixista Andy Hamm ou a participação do multi-instrumentista e letrista do The National, Aaron Dessner, possam explicar essa avanço lateral da banda. Vemos sinais da passagem dos anos e da melancolia que o início de uma vida adulta traz. Se antes víamos Kelcey cantando “who knows, who cares?”, como se pudesse abraçar as incertezas do mundo com um sorriso no rosto, agora vemos o mesmo dizer “when did your love go cold?/the closer I get, the farther I have to go to places we don’t know” na belíssima e calma música de introdução You and I. Traços melódicos são denotados em Heavy Feet e Breakers, com os usuais trabalhos vocais e “oohs” da banda. Mas são momentos raros, e muito bem aproveitados ao longo do disco.

A guitarra em Ceilings, repetida em suas notas e tempo, e que aparece no instante certo, dá um charme a mais para a linda música que expressa o Carpe Diem. “Thinking of what we’d give to have one more day of sun”. De forma oposta, a tensão corre e cresce no ar quando ouvimos Black Spot e o medo, a morte, volta a percorrer nas letras “and if I didn’t know to be afraid, The faces made me sure that I do now”. Apesar de mais maturos, continuam proporcionando a mesma teatralidade ímpar. A levada quase Jazz de Three Months, toda conduzida no piano acaba encontrando na voz de Ayer o parceiro ideal. O refrão é de cortar o coração devido à tamanha entrega e sinceridade nos falsetes de “I’m letting you know I’m ready to feel you”.

Black Ballons lembra muito o primeiro disco da Local Natives com timbres de guitarra e construções, e a mesma intensidade se repete em Wooly Mammoth. Os melhores momentos do disco são guardados para as três últimas canções: Mt. Washington, Columbia e Bowery, cada uma com sua particularidade.

A primeira com o seu o violão, elevação do volume de seus instrumentos aos poucos e muito sentimento exposto. Columbia, em compensação, tem a letra mais pessoal do disco e aborda a morte da mãe do vocalista. Trechos como ”If you never knew how much/If you never felt all of of my love /I pray now you do” e “A hummingbird crashed right in front of me and I understood all you did for us. You gave, you gave, you gave” são extremamente profundos e belos. Bowery termina o disco de forma melódica e expõe as diversas faces e ângulos que podemos ver num relacionamento, sempre muito pessoais. “At the time I wasn’t with you /By that time I didn’t care”, muitas vezes estamos presos a relacionamentos por justamente não sabermos o que a outra parte pensa.

Assim como as pessoas mudam, bandas mudam, amadurecem e isso é extremamente positivo. Muitos grupos demoram uma eternidade para chegar em um nível tão elevado de composição e coragem, e outros nem tanto, algo que acontece com o Local Natives. Hummingbird é mais uma prova de que grandes discos não tem hora pra chegar. Podem ser no começo de carreiras, no ínicio do ano, ou a qualquer momento.

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BOM PARA QUEM OUVE: Girls, Grizzly Bear, Fleet Foxes
ARTISTA: Local Natives
MARCADORES: Folk, Indie Rock, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.