Resenhas

Manchester Orchestra – Simple Math

Em seu terceiro álbum, Andy Hull e sua banda faz um atestado de amadurecimento, tanto o artístico/musical, quanto o a nível pessoal, explorando temas complexos e íntimos em uma roupagem com o melhor do Rock sulista contemporâneo

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Ano: 2011
Selo: Favorite Gentlemen
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock, Southern Rock, Rock Alternativo
Duração: 45:05
Nota: 4.0
Produção: Dan Hannon

Em seu terceiro álbum, a banda Manchester Orchestra revela ao mundo sua prematura glória musical em contraponto às dores da maturidade que a vida contemporânea demanda quando traz conceitos absolutos como “sucesso” e “fracasso” para a juventude. Simple Math é todo construído para amparar as letras do vocalista e guitarrista Andy Hull, que aos 24 anos reflete sobre tudo o que (já) passou com a carreira, o casamento e os valores com os quais enxerga o mundo ao seu redor, resultando em uma obra brutamente íntima em seu conceito, mas com refinamento em sua produção e composições.

Assim como seus dois antecessores, o disco foi lançado pelo selo independente Favorite Gentlemen Records com distribuição em todo o Estados Unidos pela Sony Music. Desta vez, a mistura de southern rock com elementos do indie rock predominante em I’m Like a Virgin Losing a Child (2006) e Mean Everything to Nothing (2009) ganha novas dimensões para dar conta da densidade lírica ao longo das dez faixas.

Deer faz uma bonita abertura, melancólica em seus lamentos e pedidos de perdão que acostumam nossos ouvidos ao nível de sinceridade presente nas próximas músicas. Como na seguinte, Mighty, que invade nossa atenção com suas guitarras e os gritos “It’s not like I was lost for a purpose, I lost purpose and purposely froze” (“Não é que eu me perdi de propósito, eu perdi o propósito e assim me congelei”), existenciais e diretos, sem perder sua beleza. A primeira metade do álbum continua essa mesma vibe, como em April Fool e Pale Black Eye, mas traz ainda o Manchester Orchestra caipira e sujo em Pensacola, como se consagrou com os hits Shake it Out e I’ve Got Friends (ambas do segundo CD).

O disco encontra seu clímax na sequência de Virgin (a mais dark de todas) e a faixa-título, que, juntas, chegam mais longe em emoção e som do que qualquer outra coisa que a banda já fez. Depois disso, o álbum tenta recuperar seu fôlego com Leave it Alone e Apprehension (as menos impressionantes das dez canções), concluindo-se com a apoteótica Leaky Brakes (a mais longa de todas, com mais de sete minutos).

Simple Math tem essa constante complexidade em antítese com o “simples” que carrega no nome, como na capa clean com linhas singelas formando múltiplas figuras geométricas. É uma daquelas obras que você vai descobrindo uma nova sinceridade a cada audição, e foi esse fator humano nas músicas que garantiu que o disco fosse o maior sucesso comercial da banda até hoje, atingindo o quinto lugar da categoria “Rock Alternativo” na Billboard (e 21º lugar no ranking geral).

O disco revela o amadurecimento sonoro da Manchester Orchestra, que sabe usar arranjos de cordas, consegue ser intimista quando deve e faz barulho quando pode. A proposta parece ser essa, a de trazer algo novo para o som da banda, mas não para o cenário musical em que ela está inserida – o que pode desagradar alguns, mas dá mais liberdade para a banda criar olhando para si mesma sem essa “responsabilidade”. E é esse processo reflexivo o maior mérito de Simple Math, tanto na maneira que a música foi feita, quanto no estado contemplativo que o álbum oferece ao ouvinte.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.