Resenhas

Oh Sees – Smote Reverser

Banda californiana retorna com um pouco mais “clássica”

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Ano: 2018
Selo: Castle Face
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Garage Rock
Duração: 59:53
Nota: 3.5
Produção: John Dwyer, Eric Bauer e Enrique Tena Padilla

Antes de falar de Oh Sees, algumas atualizações: a banda segue escrevendo seu nome desta forma (já foi OCS, Thee Oh Sees e tende a mudar novamente a qualquer momento), sua formação atual segue com Tim Hellman, Dan Rincon e Paul Quatrone, além de John Dwyer, o dono da banda e do conceito. Fechando este pequeno setor de updates, Smote Reverser é o 21º álbum lançado por Dwyer em 20 anos de carreira à frente do grupo, em todas as suas fases e mutações. Uma média invejável, que indica, uma gente que precisa expressar-se constantemente, não necessariamente tendo algo a dizer. Ah, um último dado: até que alguma mudança aconteça, Dwyer e seus amigos darão as caras em São Paulo para show no dia 6 de novembro. Certamente tocarão boa parte das onze canções deste novo trabalho. Vamos a ele.

Quem está acostumado ao mundo de Oh Sees sabe que seus discos são caleidoscópios musicais alimentados pelo reprocessamento de estilos clássicos do Rock, a saber, o Progressivo, o Metal e o Garage sessentista. Este último é a argamassa que sustenta o resto, com direito a andamentos rápidos, órgãos clássicos que surgem a todo instante e uma dinâmica que dá a impressão de estarmos envolvidos na audição de alguma coisa extremamente alternativa e legal. Essa regra se mantém, mesmo que mude de intensidade aqui e ali. Neste novo disco, Dwyer surfa como poucas vezes nas ondas da tradição roqueira dos anos 60/70, o que significa dizer que Oh Sees nunca pareceu tão “clássico” e formal. As canções apontam para as referências habituais, mas há um desejo – talvez involuntário – de soar setentista e tradicional, algo meio inédito na banda até aqui.

O resultado desta aproximação em relação às canções e arranjos tem uma consequência interessante: tudo parece ter mais foco e uma formalidade que, se corta a onda da doideira pejorativa que pode atrapalhar a banda fora de seu círculo, por sua vez, confere a Dwyer e cia uma aura de bons músicos, bem informados e capazes de provar talento com habilidade e propriedade. Sim, pra muita gente – fãs da banda inclusive – isso quer dizer pouca coisa, o que nos fará ter foco nas canções, que mostram uma banda afiada e legal. Desse jeito, saem as pinceladas cósmicas, jazzisticas, eletrônicas e similares e entram referências de gente como Deep Purple, Frank Zappa, Mars Volta e algumas passagens sessentistas de Blues e Progressivo.

Canções como Nail House Needle Boys, Enrique El Cobrador e C parecem regravações de sobras de estúdio desses sujeitos mencionados acima. Funciona como algo novo para pessoas jovens que não têm muita ideia de que isso já existiu/existe no Rock. Épicos como Last Peace e Anthemic Aggressor mostram improvisação e um saudável desrespeito por convenções, ceriticando o ouvinte acostumado ao grupo que, sim, há mais acenos ao Rock clássico, porém, como diriam os torcedores no estádio, “isso aqui ainda é Oh Sees”. Nesse aspecto, o grupo de São Francisco acaba compartilhando com Omar Rodriguez Lopez esta dualidade na relação do clássico/novo dentro do que produz.

O resultado final é satisfatório e confirma um Oh Sees focado e ciente do que está fazendo, pelo menos por enquanto: explorar os cantos e vielas estilísticas roqueiras com um pouco mais de faro de detetive/arqueólogo, equilibrando referência e insolência em boas equações. Funciona, na maioria do tempo e deve ser ainda mais legal no palco.

(Smote Reverser em uma música: Enrique El Cobrador)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.