Resenhas

The Velvet Underground & Nico by Castle Face and Friends

Disco homônimo de estreia da banda norte-americana ganhou um ótimo tributo feito por artistas da cena garageira da Califórnia ao completar seus 45 anos

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Ano: 2012
Selo: Universal Music / Castle Face Records
# Faixas: 11
Estilos: Garage Rock, Rock Psicodélico, Art Rock
Duração: 48:35
Nota: 4.0

A estreia homônima do The Velvet Underground & Nico é, sem duvida alguma, um dos discos mais icônicos e influentes da música contemporânea. A musicalidade proposta ali exalava um experimentalismo artístico tão grande que quebrou diversas barreiras e tabus da época, gerando diversos outros movimentos e estilos que se espelhariam em Lou Reed, Nico e companhia para criar músicas que desafiassem os padrões e que, acima de tudo, lhes dessem uma grande liberdade para abordar temas que bem entendessem.

O disco foi um grande baque para época e ainda hoje, 45 anos depois, continua sendo um álbum desafiador ao tratar de temas que, por mais banalizados que tenham se tornado hoje em dia, são trabalhados de forma única, forte e, sobretudo, poética. A musicalidade proposta ali também reverbera até hoje nas mais diversas bandas dos mais variados estilos.

Esta compilação em tributo ao álbum aniversariante é feita por onze artistas de uma das cenas que mais foram inspiradas por ele e o reconstroem ao seu modo, mantendo a mesma identidade proposta por Lou Reed e companhia, mas adicionando os toques garageiros e psicodélicos que são os grandes destaques deste movimento. Recriando as faixas, que foram saindo aos poucos durante os últimos meses, você verá velhos conhecidos como Ty Segall, White Fence, The Fresh & Onlys, Thee Oh Sees e mais tantos outros nomes que participam desta cena californiana.

A versão de Kelley Stoltz para Sunday Morning traz o mesmo clima ameno e os xilofones da original, conduzindo o mesmo aspecto sonhador de um domingo de manhã e abrindo o disco de forma majestosa. I’m Waiting For The Man é acelerada e ganha uma cara mais Pop nas mãos do quarteto Warm Soda. Se, por um lado, ela perde a potência vocal de Lou Reed e sua vibe declamatória, ganha em energia tirada do Power Pop que o grupo faz.

A sensual Femme Fatale, que originalmente era uma baladinha feita para a voz de Nico, ganha uma cara mais ácida, intensa e nada sexy pelas mãos de Ty Segall. A instrumentação singela e sonhadora é substituída por guitarras ásperas e potentes que rasgam a canção se unindo à estridente voz de Ty.

Blasted Canyons tem a difícil missão de recriar a hipnotizante Venus In Furs. Mais ruidosa e densa que a do Velvet Underground, a canção segue o mesmo clima psicodélico da original e lhe adiciona camadas extras de voz e reverberações. White Fence cria uma versão de Run Run Run que parece levar a original um passo adiante, pegando sua essência e a potencializando. É claro que os maneirismos psicodélicos do músico estão presentes e, ao se aproximar do fim da faixa, são eles que comandam, inundando-a de feedbacks e fuzz.

The Fresh & Onlys parece querer simplificar All Tomorrow’s Parties. Se na original, guitarra, viola e voz se encontravam descompassados, porém em perfeita sintonia, parece que tudo aqui se conecta perfeitamente –tirando um pouco do charme da música. Já Heroin, feita pelo Burnt Ones é uma das versões mais fiéis à original. Ela segue à risca o que foi proposto por Lou Reed, acelerando e desacelerando a todo o tempo e encontrando o êxtase de uma viagem da droga que dá nome à música. There She Goes Again perde a cara de baladinha dançante dos anos 60 e, com ela, a graça da faixa. The Mallard alonga a canção e cria o pior momento do álbum (que nem é tão ruim assim).

A doce declaração de amor em I’ll Be Your Mirror é fiel aos arranjos, mas apresenta uma diferença brutal. Se na original quem cantava era Nico, com sua voz sóbria, de uma verdadeira mulher, a banda Here Comes the Here Comes dá a ela uma cara mais juvenil, fazendo sua letra, de certa forma, soar diferente, como se quem dissesse tudo o que Nico queria dizer fosse agora uma menina ingênua. A dissonância entorpecente de The Black Angel’s Death Song permanece quase a mesma, sendo essa uma das versões mais fiéis. Por fim, o Thee Oh Sees dá sua versão para European Son. A canção, que beira a cacofonia, é toda fragmentada e com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, o que faz com que a impressão de estranheza causada ao ouvir a canção original pela primeira vez seja drasticamente diminuída.

Essa é uma bela homenagem para uma banda (e disco) que influenciaram várias gerações, em especial a cena californiana que já há alguns anos vem revelando muita gente boa. Diferente de outros tributos, este acertou ao trazer os artistas corretos e definir um estilo como espinha dorsal do projeto.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts