Resenhas

Tinashe – Joyride

Acompanhada de 17 produtores, cantora trabalha sua música R&B e Eletrônica

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Ano: 2018
Selo: RCA
# Faixas: 11
Estilos: R&B, Eletrônico
Duração: 36:51
Nota: 3.0
Produção: Tinashe, A1, Allen Ritter, BLWYRMND, Brilliance, Dre Moon, Felix Snow, Hitmaka, Mario Luciano, J. White, Joel Compass, Reckless, Ritz Reynolds, Soundz, Stargate, T-Minus, Todd Cooper, Wavy

Uma olhada marota no scout deste novo lançamento da cantora-modelo americana Tinashe nos aponta uma curiosidade numérica: há mais produtores que faixas em Joyride, seu novo disco em questão. Isso nem é tão estranho em tempos pós-pós-modernizantes, em que verdadeiros combos de produtores, músicos, arranjadores, coisadores em geral, integram “crews” e “entourages” imensas, que acompanham, tal qual rêmoras, os astros e candidatos a astro no mundo pop. Ou nem tanto. Ás vezes eles são criaturas obscuras, entocadas em estúdios, presas a laptops, de quem pouco se ouviu falar mas que, num movimento rápido, estão por aí, assinando gravações e produções de gente grande. Mesmo assim, por mais que estes dezessete nomes envolvidos na produção do álbum sejam importantes, estamos aqui pra falar do disco e sua intérprete.

Tinashe tem voz padrão, não muito diferente do que estamos ouvindo por aí nesta seara que é versão “século 21” do que já se entendeu por R&B. O gênero, que surgiu lá nos anos 1950, como um irmão mais velho e mais negão do vindouro Rock, era a cruza de música sagrada e profana, produzida por negros e brancos nos lugares dos Estados Unidos onde havia fluxo migratório originário das cidades do sul e oportunidade de trabalho. Grandes cidades como Nova York, Detroit, Chicago, Filadélfia, todas teriam uma cena musical turbinada por conta deste fato. Pois bem, a música evoluiu, nasceram o Rock, o Soul, temporões em relação aos mais velhos Jazz e Blues, enquanto o R&B tornou-se uma espécie de argamassa musical. Tinashe não tem qualquer obrigação de saber muito a respeito dessa evolução ou mesmo ter qualquer noção dela, o fato é que sua música se insere neste terreno moderno das batidas eletrônicas entrelaçadas com intensas construções de teclados, vocalizações, ecos, efeitos, andamentos quebrados, tudo que caracteriza a nova faceta do estilo, devidamente equipada com as próteses fornecidas pela eletrônica e pelo hip-hop ao longo das últimas décadas.

Nem mesmo os 17 produtores seriam capazes de mascarar uma eventual ausência de boas canções. Mesmo que não seja o caso de Joyride – há bons momentos – a impressão é que essa cabeçada de gente poderia ter feito mais e melhor. Tinashe se oferece toda toda ao ouvinte, há vocalises, scats, vozes agudas, resfolegantes, sensuais e, quando necessário, fortes o bastante para dar uma sacudida na audiência. Os momentos mais legais são esses, em que a moça se dispõe a dar uma tirada de poeira dos ombros e sair da languidês absoluta. O melhor exemplo é Ooh La La, que lembra demais algo que Destiny Childs poderia ter gravado lá por 2001. O entrelace de vocais, a batidinha herdeira dos passinhos marcados do Charme e uma belezura ensolarada de domingo compõem o painel legal. No mesmo estilo, só que mais dançante, está Me So Bad, que ostenta uma batida Reggaeton explícita, algo que está muito na moda mesmo que não funcione sempre, o que não é o caso por aqui.

Fechando a trinca de bons momentos, Stuck With Me, que tem bossa e estilo de R&B dos anos 1990, da escola Brandy/Mariah Carey, algo que foi deixado de lado mas que renasceu em cantoras mega-ultra-blaster como Rihanna e (mais em) Beyonce. A batida é entremeada com efeitos de dedos estalando e uma melodia simples e direta, com vocais melosos na medida certa. Funciona.

Não dá pra saber se este álbum levará Tinashe a se sobressair no universo musical de agora. Enquanto vemos se isso acontece, dá pra ouvir alguns bons momentos que, no entanto, deixam alguma esperança para um novo e bem resolvido disco para logo.

(Joyride em uma música: Ooh La La)

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BOM PARA QUEM OUVE: Beyoncé, Rihanna, The Weeknd
ARTISTA: Tinashe
MARCADORES: Eletrônico, R&B

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.