Resenhas

Wye Oak – The Louder I Call, The Faster It Runs

Dupla americana lança novo álbum com referências aos anos 1990

Loading

Ano: 2018
Selo: Merge
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Indie Folk
Duração: 38:21
Nota: 2.5
Produção: Andy Stack, Jenn Wasner

Direto de Baltimore, nos Estados Unidos, vem Wye Oak. Trata-se de uma dupla formada por Andy Stack e Jenn Wasner, que tocam todos os instrumentos e produzem seus álbuns. Este The Louder I Call, The Faster It Runs é o sexto de uma carreira que se iniciou há doze anos. Os sujeitos vêm com a chancela da prestigiosa gravadora canadense Merge e receberam críticas elogiosas nos EUA e na Inglaterra. Entre outras observações, os coleguinhas indies gringos ressalvaram a beleza do espectro sonoro que Wye Oak entrega, a maravilhosidade total que é ter canções com batidas pulsantes e andamentos mais serenos, tudo se comunicando e encadeando naturalmente. Ouvi o álbum várias vezes e não consegui sentir o entusiasmo que essa gente sentiu, pelo contrário. Ainda que o disco esteja longe de ser ruim – ele é otimamente bem produzido, gravado e tocado – me parece que falta algo que, se você lê meus pitacos sobre música por aqui e além, talvez já saiba o que é. Faltam boas canções. Sem elas, meus caros e caras, a coisa não funciona.

Este é o problema aqui. Na verdade, não é só esse. Falta uma identidade sonora à música de Wye Oak neste álbum, que é abrigado pelo conveniente e generoso rótulo de “Rock Alternativo” ou ainda, “Indie Rock”. Acho que, sim, o que temos aqui pertence a esta esfera estética, mas é sem criatividade, lembrando algumas bandas e momentos das últimas duas décadas sem muita originalidade. A voz de Jenn, quando chega em agudos e momentos de intensidade mulherística, lembra o registro esganiçado da finada Dolores O’Riordan, que não conseguia segurar a onda nos tons mais altos. O instrumental não lembra The Cranberries, a banda que tinha na cantora irlandesa o seu rosto, mas há um certo ranço alternafolk que irrita e não leva os arranjos para lugar nenhum.

Não é só isso. Os arranjos erguidos pela dupla lembram momentos burocráticos de bandas como Of Monsters And Men, com canções em midtempo que são esquecíveis toda vida. Os instrumentais se repetem em cascatas de sintetizadores chatos, pianos e guitarras, tudo num imaginário cabo de guerra entre o esquecível e o memorável, sem vencedor aparente. Há exceções, claro. A melhor delas é a bela Lifer, que tem um solo de guitarra caído do céu e uma bela performance vocal de Jenn, sem nem chegar perto de outros registros “inspiradores”. Outro bom momento é It Was Not Natural, que tem algum DNA em comum com a encarnação final de Cocteau Twins e seu filhote estético, Lush.

Há algumas tentativas de diversificação: Symmetry tem uma pegada oitentista de pós-punk mas não chega a decolar, Say Hello é uma tentativa de cruzar aspectos do Fofolk, a variante doce do estilo, com algo e Rock Alternativo britânico dos anos 1980, mas acaba soando derivativo e sem graça. Nesta onda vão as razoáveis You Of All People e Join, que tem dedilhado de guitarra e bateria sutil, novamente lembrando uma versão acústica de alguma faixa esquecida de Cocteau Twins.

Ao fim das contas, o saldo é de 50%, um disco que não ata nem desata, pode impressionar pela competência na gravação/produção, mas não vai despertar nada além de algumas lembranças de outros artistas. Entre o início e o fim, Wye Oak fica no meio do caminho de uma estrada rumo a lugar nenhum.

*(The Louder I Call, The Faster It Runs em uma música: Lifer)**

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.