Resenhas

Flatbush Zombies – Vacation in Hell

Sequência cresce em todos os sentidos e traz bons hits ao grupo de Hip Hop

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Ano: 2018
Selo: Glorious Dead Recordings
# Faixas: 19
Estilos: Hip Hop
Duração: 76:00
Nota: 3.5
Produção: Erick Arc Elliot

Se antes existia uma indicação que os coletivos de Rap norte-americanos estavam retornando, um movimento análogo ao que os popularizou nos anos 1990, ela é fato consumado hoje em dia. Partindo inicialmente do certo mainstream que Odd Future alcançou há quase seis anos atrás, para a Pro Era de Joey Bada$$ até o sucesso estrondoso atual da A$AP Mob de A$AP Rocky, vimos tal tendência se tornar cada vez mais comum. Atualmente, dois dos maiores artistas de Rap são “bandas”: o gigantesco Migos e o ainda “underground” Brockhampton.

Nos anos 1990, tivemos grupos como De La Soul, A Tribe Called Quest, Goodie Mob, Gravediggaz e Wu Tang Clan, entre tantos outros que espelharam no poder estrondoso que um grupo de Rap a partir do Run-DMC nos anos 1980. Logo, tal formato está longe da novidade, mas mostra uma retomada gigantesca, principalmente após a consolidação de rappers como artistas solo no começo dos anos 2000, vozes únicas tais quais Jay-Z, Kanye West e Kendrick Lamar. Diferentemente da crítica social que tais grupos exerciam naquele período, atualmente “as bandas” de Rap se unem por afinidades artísticas para ganhar impulso – longe de ser um defeito, mostra como consequentemente o Hip Hop se transformou no principal estilo musical nos EUA e sua influência em outros mercados mundiais.

Flatbush Zombies é mais um desses exemplos e mostra como a união entre os rappers Meechy Darko, Zombie Juice e Erick Arc Elliot traz maior dinamismo às suas qualidades artísticas – criando, assim, maior amplitude ao seu trabalho. Vacation in Hell é o segundo álbum de sua carreira e se mostra uma evolução em todos os sentindo em relação a 3001: A Laced Odissey (2016) – a costumeira agressividade vista anteriormente se mantém, assim como a dinâmica entre as vozes dos MCs, umas das principais qualidades do grupo ao transformar diversas canções como o hit Headstone ou Vacation a partir da frequência sonora do timbre de voz do trio. Darko é particularmente a principal voz em grande parte das músicas, principalmente em Headstone, quando emula o DMX com sua rouquidão grave de suas rimas.

Se em 3001 as batidas pareciam ser apenas coadjuvantes, aqui elas ganham outros ares de protagonismo e roubam a cena em faixas como a balada Leather Symphony ou Facts, mostrando a grande evolução da cabeça do grupo e produtor Erick Elliot. Tal mudança diz respeito à vontade do trio: buscar um single que se torne seu principal hit. Chunky e U&I chegam perto do Pop, no entanto o principal carro chefe aqui é Crown, com Portugal, the Man. Seguindo o vácuo do sucesso de Feel it Still, a faixa parece ser o pote de ouro de Vacation in Hell e provavelmente será desenvolvida como forma de promoção do disco.

Alguns problemas afetam a obra, entretanto. Seu excesso de canções, 19, semelhante a outros lançamentos nos últimos anos que tentam aumentar o número de streamings pela sua longa duração, e a consequente transformação do álbum em uma playlist de quase 80 minutos diminuem seu impacto como um todo. Não deixa de conter diversas boas canções e mostrar uma evolução na sonoridade do grupo como um todo, mas, diferentemente dos atuais nomes consolidados enquanto “bandas de Rap” que se preocupam com a unidade, Flatbush Zombies atira para alguns lados, gastando munição desenfreadamente como no divertido jogo Dead Rising de Xbox. Alguns, com certeza, serão certeiros e aumentarão a popularidade do grupo, entretanto, para se tornar uma referência conceitual (algo que possivelmente eles não estão propriamente buscando), é melhor guardar a munição como no clássico Resident Evil.

(Vacation in Hell em uma faixa: Crown)

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BOM PARA QUEM OUVE: Brockhampton, Migos, Joey Bada$$
MARCADORES: Hip Hop, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.