Resenhas

Of Montreal – White Is Relic/Irrealis Mood

Novo disco traz mais conceito do que música

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Ano: 2018
Selo: Polyvinyl
# Faixas: 6
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 41:03
Nota: 2.5
Produção: Kevin Barnes

Versos como “Nós podemos ouvir a matéria escura se reproduzindo, nós podemos ouvir o governo respirando” e canções com títulos do calibre de “Música Suave/Fotos do Céu Joviano tiradas pela Sonda Juno ” ou “Intervalos Paranoicos/Dismorfia Corporal”. Esse é o mundo de Kevin Barnes, o sócio proprietário de Of Montreal. Desde que surgiu em Athens, Georgia, há 21 anos e 15 discos, o grupo é um veículo de doideira psicodélica mais ou menos relevante. Sabemos que o estilo Rock Psicodélico há muito deixou de ter a importância novidadeira e experimental do passado e tornou-se mais um produto na prateleira de influências/modus operandi para artistas e bandas. No caso de Barnes, é possível dizer que sua obra sempre teve um pé na experimentação controloda e não-revolucionária e outro em alguma moda passageira. Agora, neste novo trabalho, Where Is Relic/Irrealis Mood, os anos 1980 são revisitados com força, especialmente em sua modalidade de remixes e versões estendidas de canções pop. Pelo menos é o que a banda e alguns veículos inocentes da imprensa musical mundial andam dizendo.

Os remixes e versões 7 e 12 polegadas que surgiram, não nos anos 1980, mas na década de 1970, especialmente na época da Disco Music, estão bem distantes da música que Of Montreal apresenta ao longo do álbum. O conceito original, de oferecer novas perspectivas sobre determinadas canções, proporcionar mais tempo de dança, enfatizando seus aspectos rítmicos, especialmente baixo e bateria, é próprio à música Pop em mutação e evolução. Foi decisivo na popularização da música Eletrônica e no o nascimento do Rap, sendo chupado por produtores como uma forma de capitalizar em cima de canções que faziam sucesso nas paradas. É, por assim dizer, uma pálida modalidade desta prática. Coincidência ou não, o material que a banda apresenta por aqui é bem pobre, com composições sem criativade, apelando para um instrumental eletrônico bundamolizante, que não tem conceito ou aplicação alguma, tornando a audição das faixas uma tarefa árdua.

Além disso, a afeição de Kevin Barnes por essa psicodelia de caderno com cheiro de fruta e capa colorida é bem chata nessa altura do campeonato musical do século 21. Há tantas coisas em jogo, tantas informações a passar, tanta música nova para ser criada e o disco exala conceito furado, quase como se fosse um equivalente de um food truck, deturpando originalidades e reempacotando-as com novos nomes e marketing, para iludir novinhos e novinhas. Pode funcionar aqui e ali, mas não cola com alguém minimamente rodado na estrada musical da vida.

As faixas são longas, mantendo a ideia de chupinhar os bolachões oitentistas, mas tudo soa sem sentido, uma vez que, tais versões estendidas, eram feitas a partir de grandes canções, que eram mexidas e reviradas ao avesso, algo que está bem longe de acontecer por aqui. No fim das contas, todo o álbum torna-se um briefing publicitário ruim, daqueles em que você ouve expressões como budget, stakeholder e game changer o tempo todo.

Meu conselho: procure artistas mais legais dentro desta seara psicodélica. Há vários. Não perca seu tempo com esse disco, no próprio catálogo pregresso de Of Montreal há coisas muito, muito mais legais para se ouvir. Boa sorte e vai na fé.

(White Is Relic/Irrealis Mood em uma música: Sophie Calle Private Game/Every Person Is A Pussy, Every Pussy Is A Star!)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.