Sempre ficamos sabendo de alguma banda que foi montada através da Internet, e a história do Cambriana não foi diferente. A dupla criativa Luis Calil e Wanderson Meireles superou a distância com muita criatividade. Assim como na era Cambriana houve uma explosão de vida e diversificação de organismos, House of Tolerance parece tirar daí sua inspiração, criando um álbum completo e diversificado.
Com o projeto encaminhado desde 2010 no quarto de Luis, aos poucos ele foi se construindo e tomando forma, somente em 2011 os novos integrantes foram entrando. Em 2012 lançaram seu primeiro EP Afraid Of Blood, um primeiro passo como banda muito bem recebido, e poucos dias depois já lançavam o primeiro álbum. Com isso, os goianos já eram apontados com uma das grandes apostas do ano.
As faixas quase sempre soam simples, mas escondem harmonias bem trabalhadas e um toque charmoso do psicodélismo, e com muito do experimentalismo do Grizzly Bear presente no trabalho da banda. O estranhamento inicial ao ouvir o álbum, logo é substituído pelo êxtase de uma boa obra, completa e carregada de sonoridades diferentes, porem muito bem amarradas entre si.
Há nesse disco uma grande dificuldade, que é classifica-lo em um gênero. A banda consegue passear entre o Freak Folk, Chillwave e o Indie Pop, com influencias ainda do Radiohead e Brian Eno, englobando momentos de Death Cab For Cutie e Phoenix. Parece estranho, não? Mas não é, mesmo com diversas referências, uma mais diferente que a outra, a banda consegue criar a sua própria identidade.
A produção caseira do disco não prejudicou em nada sua qualidade. Em quase um ano de produção, House Of Tolerance consegue atingir um resultado incrível. A sóbria e pesada Safe Rock, é uma mistura de Death Cab com peso da distorção das guitarras e o vocal característico de Luis. Waitress mostra o lado Folk experimental do disco, com seu banjo e clima espectral.
O clima de Contra, a faceta pop do Vampire Weekend, está bem presente na incrível Big Fish. O grande destaque do álbum fica por conta de The Sad Facts, com sua batida oitentista e seu piano guiando a voz de Luis, que ganha ainda mais força nesta balada pop. Na música que fecha o disco, Invicto, a tensão vai crescendo aos poucos, chegando ao seu ápice ruidoso, fechando-o assim em grande estilo.
Assim como na explosão Cambriana, houve uma diversidade de novos organismos surgindo e evoluindo, a banda consegue seguir o mesmo caminho. Nessa explosão de criatividade, pegam emprestadas diversas sonoridades para criar a sua própria. House Of Tolerence abre o ano dos discos nacionais em grande estilo.