Son Lux é um projeto que vem se reconfigurando desde o álbum Bones, quando a empreitada de Ryan Lott transmutou-se de um formato solo para um de banda. Desde então, a incorporação da guitarra de Rafiq Bathia e da percussão de Ian Chang, elementos de personalidade forte, acentuou o clima de tensão característico do projeto.
Tensão, aliás, é mais do que um dado estético por aqui, sendo, talvez, a natureza fundamental da música proposta por Lott. Brighter Wounds é a evolução do EP Remedy, na medida em que oferece uma “tradução musical ideal para os tempos sombrios, incertos e ansiosos” que vivemos, nesse caso, vistos a partir da perspectiva norte americana.
Ryan Lott compôs esse trabalho enquanto passava por transformações marcantes, a saber, o nascimento do seu filho no dia seguinte às eleições que colocaram Trump no poder, e também a morte de um amigo próximo, vítima de câncer. São momentos que põe uma pessoa a pensar na metafísica da vida, questionando qual o seu sentido e assim por diante.
Isso tudo torna-se palpável com a voz fraquejante de Lott que canta puxada para o R&B, e as percussões entrecortadas – que ocupam o primeiro plano por aqui. É uma linha de pensamento que tem muito a ver com Arca ou ANOHNI, na qual um canto dolorido se sobressai a uma base eletrônica apocalíptica. Existem traços ainda vindos do Indie dos anos 2000, como na faixa Dream State, que possui vocais grandiosos, cheios de esperança e que tentam emplacar uma melodia grudenta.
Brighter Wounds é um dos trabalhos mais íntimos de Ryan Lott e, afinal, funciona muito bem quando propõe uma perspectiva pessoal aos outros músicos da banda. É a tal da tensão funcionando novamente como palavra de ordem por aqui. Dentro dessa onda, Son Lux entrega um álbum redondo e cristalino, alinhado com algumas das propostas mais interessantes de música Eletrônica da contemporaneidade.
(Brighter Wounds em uma música: Slowly)