Resenhas

Django Django – Marble Skies

Quarteto inglês faz álbum correto e diversificado

Loading

Ano: 2018
Selo: Because Music
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 43:31
Nota: 3.0
Produção: Dave McLean

De vez em quando eu acordo me perguntando: “onde foi parar o Pop Rock? Acabou, né?”. O som descendente direto do Rock anglo-americano dos anos 1970/80, preponderante até certo tempo, perdeu o espaço de forma gradativa e irrefreável para o Pop construído a partir da fusão do Rap com a música Eletrônica de fácil acesso. O que está no domínio das mentes planetárias hoje é descendente direto desse encontro, ocorrido em algum momento dos anos 1990. Apesar dessa prevalência, há pequenos espasmos do velho gênero, aqui e alhures. Este terceiro álbum do quarteto inglês Django Django é o mais novo pulso detectado nesta direção, misturando estruturas herdadas do manual dourado do Rock, a saber, refrão, duração e repetição, com o quinhão necessário de diversidade para não tornar a experiência “pobre” ou “cansativa” para os ouvintes 220 volts de hoje. Funciona? Vejamos.

Marble Skies é uma bem intencionada empreitada. O grupo tem uma certa excentricidade que faz a imprensa deslumbrete internacional chamá-los de “art rockers” (calma, gente), justo porque os rapazes gostam de não firmar compromisso com uma vertente estética, preferindo a democracia total. Isso significa mexer com os restos mortais de coisas como Progressivo ou Disco Music no mesmo disco. Tudo bem, não há mal nisso e, se as coisas forem bem feitas, tudo pode funcionar. Ao longo das dez canções apresentadas aqui, há um bom equilíbrio entre bons resultados e uma certa impressão de morte na praia. Os sujeitos são bons melodistas e têm noção do que estão fazendo, mas esbarram em algo que os impede de cravar uma pequena belezura saltitante em Marble Skies.

A impressão que as quatro primeiras canções conferem é a de que estamos diante de uma simpaticíssima passagem para as décadas de 1960 e 1980 ao mesmo tempo, trazendo tiques e taque popescos de ambos os tempos e de outros também. A faixa-título, que abre o álbum, tem bateria eletrônica que lembra, ao mesmo tempo, Love Missile F1-11 e Dancing With Myself, de Sigue Sigue Sputnik e Billy Idol, respectivamente, enveredando por uma melodiosa alternativa original, que dá identidade própria à canção e deixa o ouvinte com vontade enorme de ver o que vem a seguir. Qual não é a surpresa quando Surface To Air entra pelos fones de ouvido, trazendo uma batida dancehall/reggaeton de branco, cativante e dançante, deixando o apetite ainda maior. Em seguida, Champagne e Tic Tac Toe dão conta do recado, mas mostram que o combustível dos caras vai acabar em breve. Depois desta, apenas tentativas que perdem em punch, originalidade ou inspiração.

Com produção do baterista Dave McLean, Marble Skies tem um mérito que permanece ao longo da totalidade das canções: a vontade de experimentar e a ausência absoluta de medo diante disso. A psicodelia dançante de Real Gone é um ótimo exemplo, mostrando quase seis minutos de batidas eletrônicas de baixo orçamento e vocais viajantes em excesso, mas quase rompendo a barreira das faixas aceitáveis. Se houvesse mais canções legais e convidativas ao abraço total, este disquinho seria sensacional.

Mesmo assim, ainda que esteja no terreno do “quase”, quando Django Django acerta a mão, acerta quase na mosca. Merece nossa esperança e torcida pelo novo disco.

(Marble Skies em uma música: Marble Skies)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.