Resenhas

Ty Segall – Freedom’s Goblin

Décimo disco do músico traz suas melhores características com dose certa de inventividade

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Ano: 2018
Selo: Drag City
# Faixas: 19
Estilos: Rock Psicodélico, Experimental, Lo-Fi
Duração: 64:14
Nota: 3.5
Produção: Ty Segall e Steven Albini

Ao jogar RPG, é comum encontrar em suas aventuras um goblin para derrotar. Embora não seja a criatura mais poderosa deste universo, ele certamente põe um desafio instigante ao jogador, pois é dotado de uma criatividade ímpar e pode atacar utilizando diversas ferramentas. Utilizando esta metáfora aplicada à música, encontramos em Ty Segall uma representação viva do que seria um goblin se ele fosse um artista, já que temos uma discografia repleta por registros que misturam efusivas guitarras a estéticas Lo-fi, com um toque psicodélico da década de 1970.

Esta personalidade fica evidente em seu mais recente lançamento, que não parece ter o nome de Freedom’s Goblin à toa. O décimo disco do compositor e guitarrista americano talvez seja sua obra mais ambiciosa, não tanto pelo número de faixas e por ser um disco duplo, mas pelo quanto Ty Segall se permite ousar em sua criação, sem desrespeitar suas referências fundantes.

Claramente estabelecido na década de 1970, o músico procura em sua conhecida estética espaços para preencher com novidades, seja em arranjos com metais fortes e quentes, em canções acústicas menos barulhentas ou efeitos mirabolantes de guitarras. Alguns poderiam dizer que não são mudanças assim tão drásticas e/ou relevantes no seu método de composição, mas o interessante deste trabalho é ver como, ainda que um goblin caótico, Ty Segall percebe bem o que deve e não deve ser feito para prejudicar todo o sentimento psicodélico do conjunto da obra. Uma espécie de crescimento caótico com parcimônia.

Fanny Dog nos introduz a este longo registro, mostrando um dos novos elementos que Ty Segall se interessou mais em explorar durante os mais de sessenta minutos do disco: os metais potentes. Procurando mostrar como suas influências são diversas, o músico aproveita para mostrar um cover bastante sujo de Every 1’s a Winner, de cantor RnB/Soul Hot Chocolate. Já Meaning traz um pouco mais da estética Noise, abusando das distorções e fuzz o máximo possível.

Em outros momentos, como You Say A Lot Of Things, ouvimos baladas acústicas que trazem uma suavidade ao ambiente sonoro, ainda que os timbres nos sugiram uma tensão própria da identidade psicodélica de Ty. Misturando alguns dos elementos citados, também temos The Main Pretender, um híbrido de referências que parece ser um dos momentos mais frankenstenianos do disco. E por fim, And, Goodnight encerra este álbum com um momento de pura fritação hendrixiana e àlla Grateful Dead, deixando claro de onde o compositor veio e de onde sempre partiram suas ideias.

Este pode não ser o trabalho mais experimental de Ty Segall, mas ele reafirma o seu talento na hora de criar e experimentar tudo o que tem direito. Talvez seja um ótimo registro para começar a conhecer sua obra, principalmente por ela conter a essencial de Ty: de um goblin ardiloso e imprevisível.

(Freedom’s Goblin em uma faixa: The Main Pretender)

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BOM PARA QUEM OUVE: T Rex, Grateful Dead, Deerhoof
ARTISTA: Ty Segall

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique