Acompanhamos Jessie Ware desde 2012, ocasião do lançamento de seu debute Devotion. E uma das qualidades que mais chamaram a nossa atenção desde então foi justamente o tom, digamos assim, parcimonioso da artista, distante do exagero usual que personalidades do Pop costumam carregar consigo a fim de se destacarem na indústria. Glasshouse, o novo trabalho da cantora britânica, aumenta ainda mais este tom, denotando segurança, maturidade e sobriedade na música que faz.
Se até o álbum antecessor a artista habitava um território intermediário entre “os holofotes e o alternativo”, aqui ela parece abandonar de vez a segunda característica. Ou seja, se antes era possível enxergá-la, dadas as devidas proporções, ao lado de gente como Lorde ou Zola Jesus, agora as coisas soam muito mais convencionais. É possível pensar em Janet Jackson, em Kylie Minogue ou até mesmo em Ed Sheeran (que co-escreveu a faixa Sam), enquanto guardiões de um território seguro, convencional, e que abrilhanta as rádios cantando temas de coração partido. Aliás, Sam é o nome do filho de Ware, e por isso faz todo sentido pensar neste trabalho como sendo, diferentemente de seus antecessores, a perspectiva de vida de uma artista que experiencia a maternidade.
Uma possível ressalva a ser feita por aqui talvez seja justamente o tom pro forma, que executa tudo de acordo com a cartilha, almejando alguma familiridade nos ouvidos do público. Midnight traz um tempero Soul que levanta o ouvinte, Thinking About You traz batidas espaçadas e um clima de neblina, enquanto Selfish Love traz uma malemolência latina. No entanto, o tom polido, cheio de batidas pungentes e timbres cintilantes cumpre o que promete, como se fosse um clássico da gastronomia executado com perfeição, só que no campo da música. Sem alarde, com perícia e com o conforto da familiaridade.
(Glasshouse em uma música: Thinking About You)