Resenhas

Sam Smith – The Thrill Of It All

Cantor e compositor reforça seu talento neste seu segundo álbum

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Ano: 2017
Selo: Capitol
# Faixas: 10
Estilos: Soul Pop, Pop
Duração: 36:47
Nota: 3.5
Produção: Steve Fitzmaurice e Jimmy Napes

De vez em quando as estruturas remanescentes da indústria musical lançam algo realmente legal. Veja o caso de Sam Smith, por exemplo: surgiu no underground londrino como vocalista convidado num single lançado por Disclosure. Daí em diante, cavou seu espaço entre outras participações e EPs até chegar ao primeiro álbum, In The Lonely Hour, lançado em 2014. De lá pra cá, Sam interpretou canção-tema de filme de 007 (no caso, Writings On The Wall, que chegou ao primeiro posto das paradas inglesas em 2015) e foi parar até no palco do Rock In Rio, mas nunca como alguém misteriosamente alçado ao sucesso. É inegável seu talento como cantor, algo que pode ser visto com muito mais precisão em disco. Este segundo trabalho, The Thrill Of It All, produzido por Steve Fitzmaurice e Jimmy Napes (seus principais colaboradores desde o início da carreira), cheio de músicos de estúdio (incluindo a banda Dap Kings em três faixas), orquestras e tudo mais, é outra instância que comprova que Sam é, de fato, um cantor acima da média. No mínimo.

A opção dele permanece pelas baladas intensas e tradicionais, daí, talvez o paralelo que tantos traçam entre sua carreira e a de Adele. A ideia é bem parecida, o potencial vocal é semelhante e Sam trafega com facilidade nesse terreno das canções derramadas, sentimentais, mas nunca frívolas ou bobinhas. Apesar de jovem, a barra é pesadíssima nas letras que ele escreve. Alcoolismo, rejeição, amores não correspondido, religiosidade fora de lugar, questões sobre orientação sexual, tudo é bem real e verdadeiro, ainda que os esforços dos produtores em estúdio contribuam, às vezes, para a construção de arranjos bem tradicionais e, por que não, caretas às vezes. Felizmente este não é o caso deste novo trabalho, que, ainda que seja bem próximo do trivial baladeiro universal, abre espaço para alguns detalhes interessantes, que aliviam essa impressão de ver um trabalho muito distante das pessoas que têm a mesma idade que Sam.

Há pouco espaço para variações no álbum. As canções são todas lentas, com algumas diferenças de andamento aqui ou ali, mas tudo muito pessoal e quieto. A voz do sujeito é a grande estrela o tempo todo, sempre se moldando ao que o arranjo da vez pede. Há duas canções muito acima da média do álbum e vamos deixá-las pro final do texto. Dentre as faixas medianas/boazinhas destaca-se Midnight Train, na qual a voz de Sam vem acompanhada da pegada clássica dos Dap Kings, com um ótimo resultado, parecendo algo mais próximo de um Soul Pop tradicional de rádio. Burning é um baladão com instrumental pianístico e vocais em crescendo, que vão tornando-se redentores próximo ao fim da canção. A letra é sobre abandono e sofrimento, sobre alguém que se sente queimando desde que seu amor se foi. No Peace também é legal, com batida mais eletrônica e participação simpática da cantora inglesa Yebba Smith.

Sobre os dois momentos realmente intensos do álbum, são eles HIM e Pray, curiosamente, duas faixas em que Sam aborda, respectivamente, a religiosidade como pano de fundo para um personagem que deseja assumir-se sexualmente mas não consegue e pede ajuda e como meio de buscar conforto para suportar a barra pesada de não acreditar em quem se ama. Esta última, inclusive, tem tinturas Gospel muito bem produzidas pelo convidado especial Timbaland, que andava sumido do mapa há um bom tempo. Em ambas as canções, Sam empresta o tom certo, nada afetado, nada American Idol/The Voice às interpretações, sugerindo alguém com mais tarimba e quilometragem que a maioria do pessoal de sua geração.

O segundo disco de Sam Smith não vai inventar a roda, não vai abrir o Mar Vermelho ou os céus, mas vai te proporcionar a audição de boas canções, bem feitas, bem produzidas e tocadas. Além disso, Sam parece sincero sobre o que canta e leva tudo isso a sério. É uma boa pedida.

(The Thrill Of It All em uma música: Pray)

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BOM PARA QUEM OUVE: Birdy, Adele, John Legend
ARTISTA: Sam Smith
MARCADORES: Pop, Soul Pop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.