Resenhas

Weezer – Pacific Daydream

Banda californiana acerta a mão em doces e enguitarradas canções

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Ano: 2017
Selo: Atlantic
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 34:28
Nota: 4.0
Produção: Jake Sinclair

Há dois tipos de fã de Weezer: o chato, que sente saudades dos dois primeiros discos da banda e a deixou de lado a partir do início do século 21, e aquele que diz que pensa da mesma forma, mas secretamente ouve todos os lançamentos de Rivers Cuomo e sua galera, sem admitir que que gosta de, pelo menos, algumas canções criadas e gravadas depois de 2001. Felizmente, o segundo tipo parece ser mais numeroso e isso dá esperança de que álbuns como esse Pacific Daydream (assim como Red Album, Hurley e White Album, por exemplo) tenham chance de encontrar um par de braços abertos para se aconchegarem. Sim, porque a música destes sujeitos é toda emoção, toda coração e, à medida em que envelhece docemente, tenta ser atual, esforça-se para acompanhar os fatos, em suma, Weezer é um tiozão do bem. Este novíssimo disco vai nesta direção e abraça este conceito não-declarado.

Rivers Cuomo recrutou um produtor Pop, no caso, Jake Sinclair, que já assinou álbuns de Pink, 5 Seconds Of Summer, Train e trilhas sonoras da Disney, para a pilotagem de estúdio. O resultado é Weezer soando como se fosse Sugar Ray ou qualquer outra bandeca xerocopiante dos anos 1990, sem qualquer originalidade, mas que se mostravam capazes de emular Rock praiano-californiano com pitadas eletrônicas de estúdio e uma leveza comercial que as tornava livres de qualquer cobrança por parte de fãs mais ferrenhos. A diferença por aqui é que Cuomo é um baita de um compositor, cheio de carisma não-intencional e com uma reputação a zelar. Deste jeito, o que sua banda entrega é um feixe de dez canções muito redondas, que seguem uma tradição costumeira do grupo, a de oferecer, ao menos, umas três faixas memoráveis por lançamento. E elas estão presentes, ainda que disfarçadas sob um gloss/glitter oferecido por Sinclair, personificado por loops de bateria, efeitos e andamento hip-hopescos de branco, coisas que acabam jogando a favor do produto final.

A banda pede ao ouvinte menos de 35 minutos para prestar atenção no que tem a dizer. Rivers Cuomo segue com emocional abalado mas com bom humor típico dos que perceberam mais erros que acertos na vida. Fala sobre guitarras mexicanas, faz um belo tributo ao “California State Of Mind” – e ao mundo como costumava ser – em Beach Boys, fazendo um paralelo entre ouvir uma canção da banda de Brian Wilson e a felicidade propriamente dita. Aqui ele tem o cuidado de não evocar nenhum traço estrutural de canções dos rapazes da praia, deixando a influência subentendida e bem acomodada. Além destas duas faixas, Happy Hour tem uma melodia linda como dividir com a pessoa amada uma banana split gelada num dia de verão. O refrão é bem simples I need a happy hour on sad days/I need a happy hour I can’t wait, mas eficaz e cheio de cancha e efeitinhos de estúdio. Outra neste terreno ensolarado das melodias perfeitas é Weekend Woman.

Um traço desenvolvido desde o início pela banda, as habilidades nas baladas, diz “presente” com QB Blitz, singela e docinha, como convém. A grande canção do álbum chega em seguida, Sweet Mary, com pinta de clássico digno de disputar espaço entre as melhores canções da banda. A mistura sentimental e amor e tristeza surge gloriosa, um pequeno gol de placa. Poderia parar por aqui, mas ainda há uma canção digna de menção até o fim do disco: a fofa e simpática Any Friend Of Diane’s, que tem estrutura mais invocada, mas nunca arranha o ouvido alheio. Resultado: belezinha.

Weezer chega a mais um disco – o 11º, descontando a compilação de lados-B, Death To False Metal – com seus princípios intactos e mantendo uma fidelidade impressionante aos elementos que agradam sua imensa base de fãs, algo que, sim, é raro e afetuoso. Quase sempre o resultado é satisfatório, no mínimo. Aqui, novamente, Rivers Cuomo e seus amigos mandaram muito bem.

(Pacific Daydream em uma música: Sweet Mary)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.