A inglesa Lucy Rose, que costumava ser backing vocal do Bombay Bicycle Club, deixou o papel de coadjuvante para assumir o de protagonista em seu disco de estreia, Like I Used To, e para com ele começar a trilhar seu próprio caminho guiado pelo Folk.
Com uma voz doce e gentil, que é um dos maiores atrativos de sua música, Lucy canta suas letras melancólicas e sofridas, que apesar de mostrarem sua jovialidade como letrista, em nenhum momento se mostram como um lamento juvenil. Os arranjos, muitas vezes, simples (em grande parte das faixas é composto pelo trio violão-voz-bateria) contribuem para uma sensação de intimidade, principalmente nas canções guiadas somente pelo violão.
Em sua grande maioria, o disco segue um clima ameno, construído por baladinhas Folk, mas curiosamente ele é aberto com umas das músicas mais Pop e explosivas do álbum. Red Face alterna por momentos com uma percussão forte e momentos mais gentis em que, praticamente, tudo o que se ouve é a doce voz de Rose. Mesmo com algumas “pausas” a faixa segue uma linearidade crescente que culmina em um dos grandes momentos deste trabalho.
A segunda faixa, Middle of the Bed, segue mais ou menos o mesmo clima, incorporando elementos mais Pop, como texturas e algumas palmas, mas já começa a desacelerar e mostrar sua cara mais “calminha”. Com o single Lines nota-se a mesma aproximação radiofônica, fechando a tríade de abertura que parece ter sido colocada estrategicamente no começo do álbum para chamar a atenção de ouvidos mais Pop e para só então entrar no clima Folk que seguirá o disco.
Shiver é a primeira faixa que introduz esse lado ameno de Lucy Rose. A canção, que parece ter saído de Parachutes do Coldplay, carrega mais semelhanças com a banda inglesa, além do nome. Night Bus continua nesse clima intimista. O violão que domina grande parte dela ganha um acompanhamento de guitarras e vocais conforme a música cresce. Depois de um ar campestre, o disco retorna para um lado um pouco mais Pop com Watch Over e o single Bikes, que recuperam esse lado um pouco mais amigável às rádios.
O último quarto do disco é dominado por um clima mais intimista em que a melancolia de Lucy fica ainda mais evidente e suas letras nesta fase do álbum parecem ganhar maior maturidade, não deixando transparecer que sua compositora tem somente 23 anos. A versão bônus de Like I Used To vem com mais quatro presentes e, em alguns deles, Jack Steadman (Bombay Bicycle Club) participa nos backing vocals – destaque para a belíssima Scar, que poderia ter entrado como parte integral do álbum.
Sobretudo, essa é uma obra com a qual é fácil se identificar, seja pelas composições ou pela simplicidade que emana do disco. Lucy Rose fez uma escolha feliz ao assumir as rédeas de sua carreira e se lançar como artista solo. E, se depender deste trabalho, já podemos vislumbrar um futuro promissor para a moça.