Resenhas

Kalouv – Elã

Banda de Recife amplia seus limites em uma experiência grandiosa de diversas referências

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Ano: 2017
Selo: Sinewave
# Faixas: 9
Estilos: Punk, Post-Rock, Psicodelia
Duração: 50:29
Nota: 4.5
Produção: Bruno Giorgi e Kalouv

Ao aceitar escutar um disco de Kalouv, nós fazemos uma espécie de acordo: Damos aos integrantes total liberdade para nos guiar em meio ao seu rico universo de sonoridades e, em troca, recebemos as epifanias mais ricas e detalhadas, mesmo que não seja proferida uma só palavra. Desde o tímido Sky Swimmers, de 2011, até o mais álbum denso e abissal Pluvero, de 2014, o grupo recifense dispensou a necessidade de nomear o estilo que se sentiam confortáveis, aproveitando e aperfeiçoando o máximo possível a união de referências como Post-Rock, Math Rock, Psicodelia, Shoegaze e Dream Pop.

Em meio a essa pluralidade, percebemos que o ponto em comum das composições era sempre uma abordagem mais introspectiva do dilúvio de pensamentos, o que facilitava bastante a imersão completa nesses discos. Entretanto, parece que o corpo físico ficou pequeno para essas descobertas e, agora, a banda alça o maior voo que já sonhara.

Elã é um disco expansivo pois, a cada nova escutada – e acredite, você com certeza o escutará mais de uma vez – ele ganha significados diferentes e mais complexos. É como se os outros discos tivessem rendido percepções tão novas e magníficas que, agora, a banda precisou criar um som que se pudesse fazer jus a esta grandiosidade.

A produção firme de Bruno Giorgi conseguiu potencializar aquele som tímido de outrora, propiciando uma mistura na qual fica cada vez mais difícil de reconhecer seus elementos formadores. Nós sabemos que tem um pouco de Post-Rock aqui, um riffzinho mais Shoegaze ali, mas a forma final que estas influências assumem é bem mais do que uma simples soma dos componentes. Além disso, o fato do álbum ser instrumental apenas potencializa sua característica subjetiva, ou seja, cada pessoa ouvirá esta viagem conforme suas próprias experiências.

A jornada começa com Pedra Bruta, uma composição que abusa dos reverbs e dos grandes ambientes para nos conduzir por diversos humores. O single Moo Moo é uma das misturas mais extremas do disco, brincando com algumas referências de Vaporwave, Slowcore e até mesmo um flertinho com a Drone Music. A faixa Elã, alterna entre estados, tecendo certa tensão com pianos fantasmagóricos em um primeiro momento e depois se soltando em pleno voo com acordes abertos e vocais que simulam uma espécie de natureza falando conosco.

A clara referência ao videogame em Hotline Miami nos mostra como a banda está sempre em constante busca pelas novas sonoridades, buscando referências até mesmo em gêneros novíssimos como o já citado Vaporwave e o Retrowave para poder modificá-los ao seu modo. O Escultor reafirma a predileção do grupo por timbres fantasmagóricos, no que podemos definir como uma jam do além. Mergulho Profundo parece sintetizar em seis minutos essa montanha-russa de sentimentos que o disco inteiro é, contando com Hugo Noguchi (Ventre, Yukio) para compor a última faixa, que funciona mais como um reticências do que um ponto final.

Elã mostra a constante expansão de Kalouv, desbravando novas sonoridades e se sentindo cada vez mais confiante para descobrir cantos mais obscuros de nossa mente por meio de suas jams epifânicas. Um registro que, com certeza, pode figurar em nossa lista dos melhores do ano, pois a banda conseguiu fazer o impossível: um disco infinito.

(Elã em uma faixa: Mergulho Profundo)

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BOM PARA QUEM OUVE: Máquinas, Mahmed, Slowdive
ARTISTA: Kalouv

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique