Resenhas

Robert Plant – Carry Fire

Ex-Led Zeppelin entrega outra obra prima

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Ano: 2017
Selo: Nonesuch
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Folk Alternativo, Rock
Duração: 48:01
Nota: 5.0
Produção: Robert Plant

Robert Plant, ouso dizer, atingiu um nível de excelência e relevância artística maior ou igual ao que tinha quando era o cantor do Led Zeppelin. Sabemos todos que a banda era um quarteto de forças da natureza, mas a direção criativa e a produção sempre estiveram nos ombros do guitarrista Jimmy Page. Plant, com o passar do tempo, especialmente a partir de 2002, quando lançou seu álbum Dreamland, renasceu artisticamente. Muitos apontam o álbum em dueto com a cantora americana Alisson Krauss, Raising Sand, de 2007, como marco inicial desta nova fase, mas ela já vinha se desenhando desde o início do milênio. A junção de Plant com a banda International Super Shifters, a partir de 2010, só contribuiu para que ele se tornasse um artista muito respeitado, bem além de um bom vocalista. Robert passou a ser portador de uma sonoridade pessoal, muito Folk, muito Blues, mas muito moderna e cheia de pequenas revoluções no estilo. Carry Fire, seu novíssimo álbum, dá prosseguimento a esta aventura estética e mostra o quanto Plant não está para brincadeira.

Apesar de não creditada na capa do álbum, a Sensational Super Shifters está presente e é responsável direta pela sonoridade suja, empoeirada e moderníssima que Carry Fire ostenta. São onze faixas que funcionam como um workshop de como soar relevante e articulado neste mundo efêmero. Não há malabarismos estéticos, tudo está calcado no talento dos músicos em perceber que os instrumentos e a eletrônica estão a serviço da melodia, dos arranjos e não o contrário. Plant percebeu que não é mais necessário ter a mesma voz de outrora – nem possível – optando assim por um registro roufenho, envelhecido, mas dotado de enorme força. Muitas canções apresentam estruturas que fazem o ouvinte esperar pelo ressurgimento do grito de outros tempos, mas ele não vem, ficando subentendido, insinuado, registrado no inconsciente.

Tudo isso é bem sério, pensado e executado, dando uma casca a mais para as composições. Plant produz e assina parceria com o pessoal da ISS em todas as canções, exceto em Bluebirds Over The Mountain, standard do início do Rock, já interpretada por The Beach Boys. Nas dez faixas autorais, há tantos momentos iluminados que fica complicado listá-los aqui. Sendo assim, até porque gosto de indicar canções relevantes nestas resenhas que vos escrevo com tanto carinho, procurarei ser sucinto. Carry Fire não é um disco para grandes espaços, nem para audições públicas. É para o seu eu interior, para corroborar/confrontar suas visões de mundo e para você achar que há mais por aí do que conseguimos perceber apenas com os cinco sentidos. É disco para inconsciente, para carinhos no cérebro. Não há levadas dançantes, nem climas contemplativos, tudo por aqui é auspicioso, sugerindo conquistas de territórior – reais ou não – mas que perceberemos como possíveis.

A melhor canção está no fim do disco, Keep It Hid. Ela tem uma levada insana de órgão e bateria de aro, que fazem uma cama de espinhos sobre a qual deitarão guitarras, baixo e a voz de Plant, sussurrada, insinuada, com nítida inflexão Blues e o verso: “baby, be yourself, baby, keep it hid”. Poucos centímetros atrás, temos a surpreendente Bones Of Saints, esta uma canção Folk “zeppeliniana” remodelada e refeita para 2017, com guitarras, percussões e dramaticidade com viés histórico. A Way With Words é uma impressionante não-balada climática, sugerida, jogada ao vento, com pontuações de piano e sons percussivos, que vai crescendo até chegar num luxuriante arranjo de cordas, especialmente de cellos, gerando beleza em estado bruto. Fechando este ranking de belezuras, a faixa de abertura, The May Queen, é outra canção “zepelliniana” clássica, com violões, acordeão, teclados, tudo numa massaroca sonora capaz de fazer uma parede pintada de branco sorrir.

Robert Plant entrega mais um disco irrepreensível, belíssimo e criativo. Como diziam os mais velhos, sua presença na lista de melhores de 2017 deste escriba é “pule de dez”. Carry Fire é um cachorro louco em forma de disco.

(Carry Fire em uma música: Keep It Hid)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.