Ao longo de quase uma hora e meia, Jhené Aiko constrói uma obra conceitual que, acompanhada de um filme de cerca de 20 minutos, passeia por experiências com drogas que colocam a personagem central, protagonizada pela cantora, em contato com seus medos e arrependimentos sem deixar de lado músicas candidatas a hit.
Não é difícil acompanhar a história de Trip, seja pelo conteúdo das músicas ou pelas cenas faladas (percebidas na audição como vinhetas) que mostram uma protagonista sensibilizada pela perda do irmão que procura nos entorpecentes um escape para sua dor, embora eles tragam em certo momento uma Bad Trip que inicia o terceiro ato.
Assim como o álcool fez assumidamente em tantas obras do passado, a maconha e os alucinógenos têm papel de trazer à tona o que a personagem carregava em seu íntimo, e cada música recebe uma dose de sinceridade em suas letras, que aproveitam o aspecto mais narrativo do Hip Hop em uma ambientação que sabe dialogar com o que o R&B de hoje possui de melhor.
Não é difícil sentir a influência de nomes como Frank Ocean no aspecto imersivo e inventivo que o disco se propõe a ter, até mesmo para dar conta de conferir unidade entre momentos tão introspectivos (Picture Perfect, por exemplo) a outros verdadeiramente eufóricos (OLLA (Only Lovers Left Alive). Ao estabelecer uma proposta mais livre na criação, com ares de Art Pop, a cantora deixa o ouvinte preparado para todas as variações que ocorrem ao longo do álbum.
Vale a pena ressaltar como a maioria das músicas, ainda que possuam uma proposta dentro da narrativa, funciona bem isoladamente – Moments (com Big Sean), Sativa (com Swae Lee) e While We’re Young são, talvez, as com mais potencial de hit dentro de Trip -, o que garante à obra também uma cara de álbum mais “convencional” que só amplia seu alcance, sem prejudicar a história contada.
(Trip em uma música: Sativa)
