Resenhas

Beto Mejía – Abraço

Flautista do Móveis Coloniais de Acaju lança seu primeiro EP solo, trazendo sons mais calmos e ternos que alegram os seus ouvintes

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Ano: 2012
Selo: Independente
# Faixas: 7
Estilos: MPB
Duração: 21:18
Nota: 4.0
Produção: Beto Mejía

Normalmente quando um integrante de uma banda decide lançar um trabalho solo, questões e expectativas são levantadas acerca do que virá. O caráter coletivo de um grupo musical muitas vezes esconde ambições e influências de seus músicos individualmente ao criar um som único e que represente todos ao mesmo tempo. Abraço, EP solo do flautista dos Móveis Coloniais de Acaju, Beto Mejia, em nada lembra o trabalho de sua banda, e talvez esta seja sua maior virtude.

Soando muito mais pessoal, menos expansivo e carnavalesco que o trabalho de seu grupo principal, Beto procura tanger sons mais delicados e abordar temas cotidianos. Não tente achar aqui os belos sopros dos Móveis, pois este trabalho é concentrado sobretudo no piano, fato denunciado logo em Intro, belíssima introdução com uma composição quase erudita no instrumento.

O disco rola como um dia curto que começa De Manhã Cedinho até terminar na Soneca. Na primeira canção, somos despertados com um raio de sol que força os olhos abrirem. “Coisa linda, tá na hora de acordar” diz Beto antes que sermos jogados para uma linda instrumentação na música. Em mais uma bela demonstração de sua valência no piano, Dentro da Barriga é a uma das grandes canções deste EP.

A grande semelhança com Móveis talvez seja a sensação de felicidade e celebração da vida proporcionada pelo som tocado. A diferença entre ambos reside na visão de mundo e do que a felicidade é propriamente. Enquanto o primeiro tenta alegrar o seu público com um som expansivo e divertido, Beto demonstra que tal sentimento pode ser alcançado nas pequenas coisas que estão ao seu alcance.

Em Simples, se procura a simplicidade na pessoa amada ao mesmo tempo que questões mundanas como qual a melhor sessão de cinema são abordadas. Procurar respostas em problemas elementares talvez seja o segredo para se viver com poucas preocupações. Vermelho traz um suingue irresistível que contracena com uma voz mais baixa, quase chorosa e que diz “fiz você meu altar, me despedi de tudo e qualquer lugar”. A bateria na caixa tem os sons de um samba, mas sua progressão é mais rápida e bem dosada junto ao baixo.

A MPB tocada no disco soa semelhante ao que vimos atualmente com artistas como Cícero e Los Hermanos, no entanto algo único permeia a obra de Beto. Semelhante a uma “dramédia”, subgênero do cinema que mistura o drama a comédia, como a vida deve ser, Abraço define a felicidade verdadeira, com tropeços que nos levam a enxergar a beleza nas pequenas ações e coisas. Da mesma forma que outros pequenos EPs vistos ao longo de 2012, Beto Mejía traz mais um trabalho dolorosamente curto e que só nos faz aguçar os ouvidos por obras maiores.

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BOM PARA QUEM OUVE: Tulipa Ruiz, Los Hermanos, Cícero
ARTISTA: Beto Mejía
MARCADORES: MPB

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.